A MINERACAO




MINA Ouro, cobre e turquesa eram alguns dos minerais que os egípcios extraiam e com os quais produziam magníficas obras de arte. O ouro era abundante no deserto oriental, uma vasta região de rochas montanhosas, situado entre o Nilo e o Mar Vermelho, uma fonte de muitos minerais e pedras duras usadas em grandes quantidades pelos antigos artífices. Na foto ao lado vemos a entrada da galeria de uma das minas de ouro dessa região. Agregadas às antigas rochas do deserto havia depósitos não apenas de ouro, mas também de prata, cobre, chumbo, ferro e zinco. Os dois últimos minerais não foram explorados no Egito faraônico. Os demais eram todos conhecidos dos egípcios desde os tempos pré-dinásticos.

O processo de extrair o chumbo pelo aquecimento do minério é simples e foi dominado logo de início. Tais minérios foram localizados em diversas áreas, principalmente junto à costa do Mar Vermelho. O principal deles encontrado no Egito foi a galena, sulfureto de chumbo, que era usado na manufatura da antiga pintura para os olhos, o kohl, desde a era pré-dinástica. Poucos registros existem sobre as atividades mineradoras do chumbo. Ele era usado principalmente para confecção de pequenos objetos de uso diário, como lastro para redes de pesca, por exemplo, ou para ornamentos, como anéis. Em Tell el-Amarna os arqueólogos encontraram juntos, feitos de chumbo, um sifão, um coador e pequenas chícaras. Como todos os demais metais, o chumbo também servia como meio de troca e avaliação de mercadorias. Um problema apresentado no papiro matemático Rhind nos ensina que o chumbo tinha metade do valor da prata e um quarto do valor do ouro.

Até o Império Médio a prata tinha mais valor do que o ouro. Análise dos objetos dos impérios Antigo e Novo demonstrou que a prata no Egito era uma liga natural de ouro misturado com prata em percentagem suficientemente alta para adquirir uma cor branca. A depreciação do valor da prata em relação ao ouro foi devida à sua importação de fontes asiáticas, em escala considerável, por intermédio do comércio e de tributos, durante os impérios Médio e Novo.

O ouro ocorria tanto no aluvião dos leitos dos wadis, quanto nos veios de quartzo branco que estavam presentes nas rochas ígneas da grande cadeia central de montanhas situada entre o Nilo e o Mar Vermelho e que corre paralelamente ao rio. A retirada do metal do aluvião era uma tarefa simples, não exigindo mão-de-obra especializada, mas apenas água para lavar o material aurífero. Colocando o aluvião numa superfície inclinada e fazendo correr água sobre ele, o material mais leve era arrastado e o ouro, mais pesado, ficava para trás como finas partículas ou, ocasionalmente, como pequenas pepitas.

No caso dos veios de quartzo, a exploração exigia uma considerável organização. Tornava-se necessário o emprego de mineradores treinados ou de homens habituados a trabalhar nas pedreiras para extrairem a rocha. Um grande esforço era exigido para arrebentar a matriz do metal. Primeiro a rocha era aquecida para que se tornasse quebradiça; depois enfiavam-lhe cunhas metálicas seguindo a direção do filão aurífero e batiam com pesados malhos de pedra. O ouro era então separado lavando-se o pó fino do quartzo da mesma forma que se fazia com os depósitos aluviais. Para o transporte o ouro podia permanecer em pó, sendo então carregado em sacos de linho, ou ser fundido no formato de pequenos lingotes ou anéis. A pureza do metal não era grande e isso se pode constatar nas jóias egípcias. Nelas o ouro aparece geralmente misturado com prata, cobre e outras impurezas.

Os egípcios deixaram poucos registros escritos falando diretamente da natureza de suas expedições mineradoras ou sobre a organização das suas minas. Nos locais de onde se extraíram os minérios também não há inscrições oficiais, provavelmente porque a rocha na qual ocorria os veios de quartzo, geralmente granito, não se prestava a ser esculpida. A passagem dos trabalhadores pelas áreas de mineração é atestada por ocasionais grafitos deixados nas rochas de arenito. É certo que em alguns períodos houve assentamento permanente de homens nessas regiões desérticas e sabemos que o banimento para tais áreas era uma das punições infringida aos criminosos pelas cortes judiciárias.

Três eram os principais pontos da extração aurífera: Koptos, Edfu e Kuban. Koptos é o nome dado pelos gregos à cidade que os egípcios denominavam de Gebtu e que foi capital do 5º nomo do Alto Egito. Essa cidade tornou-se importante por sua situação geográfica. Era a partir dela que as expedições comerciais que se dirigiam às costas do mar Vermelho e as expedições mineiras com destino ao deserto oriental deixavam para trás o vale do Nilo. Gebtu era um importante centro religioso regional e como Min era o deus local, ele tornou-se, por extensão, a divindade do deserto a leste.

Em Koptos as minas localizavam-se nas proximidades de um ponto onde havia água, o que facilitava as coisas, considerando-se que estamos falando de um deserto. A região era frequentada não só pelos mineradores, mas também por guardas responsáveis pela segurança das minas e dos homens que circulavam com o metal precioso, bem como por caçadores em busca de avestruzes, lebres e gazelas. Extrair ouro nessa região implicava em realizar expedições em grande escala. Era necessário que os egípcios tivessem domínio ou, no mínimo, ajuda da população nômade local para poderem atingir seus objetivos.

Em outras regiões a extração de ouro se complicava em função da falta de fontes de água nas proximidades. Embora o deserto oriental fosse um pouco menos árido do que o deserto ocidental, organizar expedições para extrair ou recolher minerais nessa região deve ter sido uma missão extremamente complicada, pois aí não havia oásis e as fontes de água eram poucas e demasiadamente separadas entre si. Apesar disso, a exploração nessa área foi muito completa e poucos foram os depósitos minerais significativos encontrados que não foram explorados pelos antigos egípcios.

O faraó Seti I (c. 1306 a 1290) preocupou-se um dia em visitar as minas auríferas. Os sentimentos que teve como resultado da sua incursão às montanhas do deserto foram registradas em uma estela. Ele afirma:

Como é penoso o caminho que não tem água! Como se poderá caminhar por ele quando a garganta está seca? Quem extinguirá a sua sede? A terra está longe. O deserto é largo. O homem que tem sede no cimo das colinas, lamenta-se. Como poderei minorar as suas penas? Encontrarei maneira de lhe dar vida. Agradecerá a Deus em meu nome por todos os anos do futuro. As gerações vindouras glorificar-me-ão por causa da minha energia porque Eu sou o clarividente que se volta para o viageiro.

Depois da reflexão o faraó partiu para a ação e ordenou que se abrisse um poço na montanha. Encontrada a água, o rei se rejubila:

Eis que Deus realizou o meu pedido. Para mim, fez aparecer a água na montanha. O caminho, horrível desde o tempo dos deuses, é suave durante o meu reinado.


A Mineração — Parte 2

ANDARILHOSRetorna