COMO FORAM CONSTRUIDAS


A PEDRA ARTIFICIAL


PARTE DOIS



HOME PAGE
CARPINTEIROS TRABALHANDO

Para provar que sua tese é viável, aquele autor arrola uma série de argumentos. Segundo ele, com as ferramentas de cobre então disponíveis era perfeitamente possível serrar e aplainar troncos de árvores para transformá-los em tábuas e com elas construir moldes. A madeira era provavelmente trazida do Líbano. É sabido que os antigos egípcios eram mestres na arte da carpintaria. Já na I dinastia os carpinteiros juntavam pranchas em ângulos retos perfeitos. Na ilustração acima, de uma mastaba da IV dinastia, vemos carpinteiros serrando tábuas e preparando encaixes. Os ajustamentos exatos conseguidos entre os blocos de revestimento da Grande Pirâmide, difíceis ou até impossíveis de conseguir pela movimentação de enormes blocos pesando toneladas, poderiam ser facilmente obtidos pela moldagem dos mesmos no lugar.

O produto mais importante na fabricação do cimento necessário era a cal. Para obtê-la bastava calcinar calcário, dolomita ou magnesita em fornos e tal prática já era conhecida há dez mil anos atrás. A enorme quantidade de cascalho de calcário necessário para fabricação dos blocos podia ser facilmente obtida e Davidovits explica como: Água, provavelmente trazida tão perto quanto possível por um canal, era usada para inundar o leito rochoso de Gizé e saturá-lo para produzir fácil desagregação. O calcário de Gizé torna-se tão macio quando saturado, que pode ser facilmente quebrado em pedaços quando inserido nele um tarugo de madeira. O corpo da Grande Esfinge foi esculpido, à medida que o calcário lamacento era apanhado em baldes para a fabricação dos blocos da pirâmide. Homens chapinhando em calcário molhado, lamacento, enquanto trabalham sob o calor do deserto, fazem muito mais sentido do que quebrando pedra nas pedreiras em um deserto quente e poeirento, como exigido pela teoria tradicional. Para que o endurecimento da massa se desse em algumas horas, seria necessário o emprego de minerais arsenicais. Outros tipos de minerais como turquesa e crisocola também eram exigidos para que as reações químicas se processassem. Tais minerais foram escavados nas minas do Sinai em imensas quantidades, em época que corresponde exatamente à da construção das pirâmides, e isso é um dos argumentos apresentados em defesa dessa tese. Finalmente, outros produtos químicos necessários ao processo, segundo aquele autor, seriam a alumina, existente na lama do Nilo, e o natrão, abundante nos desertos e nos lagos salgados e usado largamente na mumificação.

Ao analisar cientificamente algumas amostras de pedras das pirâmides, através de análise química de raios X, Davidovits descobriu que elas continham elementos minerais raríssimos em calcário natural, mas que podem surgir durante o processo de produção da rocha artificial. Um desses minerais era a bruxita, material orgânico presente em fezes de aves, ossos e dentes, mas que dificilmente seria encontrado em calcário natural. Ele também analisou mais de 30 amostras de pedras provenientes das pedreiras das quais se acredita que tenham vindo os blocos de revestimento da pirâmide de Kéops e em nenhuma de tais amostras encontrou os minerais raros que detectou nas amostras das pirâmides.

Na sua procura por sinais que revelassem a natureza artificial das pedrasCARCAÇAS FÓSSEIS das pirâmides, Davidovits descobriu, por exemplo, que as carcaças fósseis existentes no interior das mesmas estão dispostas em todas as direções, de forma embaralhada. Elas não se acamam horizontalmente, como seria natural em um calcário que vai se formando ao longo de milhões de anos criando, assim, as camadas sedimentares da rocha. A ilustração acima, tirada do livro Description de l'Egypte, mostra conchas desarrumadas nos blocos do miolo da pirâmide. Por sua vez, em qualquer concreto os agregados estão na maior parte embaralhados e sem acamamento sedimentar. Outros indícios do artificialismo das pedras seriam a existência de bolhas de ar, de fibras orgânicas semelhantes a cabelo e de uma camada vermelha artificial encontradas em amostra de pedra retirada do corredor ascendente da Grande Pirâmide.
As bolhas de ar não são esféricas, mas ovais, semelhantes às que surgem durante a manipulação de argila. Com relação às fibras orgânicas, o autor esclarece que cabelos nunca foram encontrados em rochas com 50 milhões de anos e que ele também não os encontrou nas amostras de pedreiras que examinou. Finalmente, a camada vermelha é, segundo o autor, uma tinta aplicada sobre uma camada branca subjacente também artificial. Essa última é, na verdade, um cimento mais sofisticado do que o cimento simples de gesso e cal que os estudiosos descrevem como sendo a tecnologia egípcia daquela época nessa área. A camada e a coloração — diz Davidovits — constituem realmente notáveis produtos alquímicos, não demonstrando empolamento ou outro tipo de deterioração apreciável, mesmo depois de 4500 anos.

Em 1974 uma equipe de pesquisadores tentou encontrar câmaras ocultas na pirâmide de Kéops. Não puderam levar o projeto avante porque a umidade do monumento era tão grande que impossibilitava a transmissão das ondas eletromagnéticas, as quais eram absorvidas pelas pedras. Surpreendentemente, porém, o leito rochoso calcário natural de Gizé é relativamente seco. Apenas concreto poderia estar saturado de umidade, assevera Davidovits. Segundo ele, o conteúdo de umidade tão elevado é suficiente para convencer a qualquer profissional da indústria de concreto de que a pedra da pirâmide é algum tipo desse material. Hoje, estruturas de concreto recentemente construídas são inteiramente úmidas. A umidade na pedra da pirâmide resulta, ao que tudo indica, da migração do lençol freático. É comum, aliás, que estruturas de concreto absorvam água subterrânea em ambientes desérticos.

Quando esteve pesquisando em Gizé, Davidovits observou que todos os blocos que formam as três famosas pirâmides possuem sua camada superior, de cerca de 20 a 30 centímetros, mais fraca, de densidade mais leve e com mais sinais de erosão que o resto da pedra. Isso ocorre, segundo ele, porque os blocos foram produzidos da mesma maneira como era preparada a argamassa, a saber: os agregados eram despejados diretamente no molde, que se encontrava parcialmente cheio de água e aglutinante. Combinando-se a mistura com a água, os materiais mais pesados acamavam-se no fundo. Bolhas de ar e o excesso molhado do aglutinante subiam, disto resultando uma matriz mais leve e mais fraca. A camada superior é a que exibe também o menor número de carcaças fósseis, não tão acumuladas no interior da pasta densa e, por conseguinte, depositaram-se orientadas no sentido horizontal. A produção desse concreto dispensou mistura, e medições precisas resultaram em camadas perfeitamente planas. O autor argumenta que caso os blocos fossem de calcário natural, esse padrão antinatural de densidade não se explicaria, pois ele é quase sempre do mesmo tamanho, independentemente da altura do bloco.

Conforme já foi dito, Davidovits constatou que os comprimentos dos blocos da pirâmide enquadram-se dentro de 10 medidas perfeitamente uniformes. Além disso, eles devem ter sido produzidos em moldes de apenas cinco tamanhos, pois alguns blocos foram moldados com comprimentos perpendiculares ao plano da face da pirâmide. O fato de os blocos mais longos terem sempre o mesmo comprimento — afirma aquele pesquisador — constitui evidência extremamente forte em favor do uso de pedra moldada. Mostra que cada bloco foi produzido de acordo com especificações exatas, imediatas, do arquiteto durante a construção. Os blocos longos aparecem imediatamente acima ou abaixo de blocos de comprimento menor, o que torna visível o plano de construção. Qualquer dimensão requerida podia ser determinada rapidamente pelo arquiteto, uma vez que seria relativa ao comprimento do bloco na fileira imediatamente abaixo. Pensa o autor que seria difícil explicar essa uniformidade do comprimento dos blocos baseando-se na hipótese de corte e escultura das pedras: Blocos jamais poderiam ter sido cortados, armazenados e selecionados na escala necessária.

As faces sul e oeste da pirâmide de Kéfren são reproduçoes idênticas recíprocas, indicando isto que todo o intrincado desenho é tridimensional. Camadas sucessivas são feitas segundo o mesmo padrão, ao passo que outras são de padrões diferentes, inter-relacionados. Alguns apresentam padrões que são quase os mesmos que os das camadas vizinhas. Os padrões de outras são o contrário das que as cercam. Todos os blocos foram vazados de acordo com um plano mestre excepcional, que eliminou a formação de juntas verticais, o que ocasionaria o aparecimento de pontos de fraqueza. A pirâmide lembra um complicado quebra-cabeça tridimensional, eficazmente formulado para criar uma superestrutura incrivelmente forte e estável.

Ao analisar a visão de Heródoto a respeito da maneira pela qual as pirâmides foram construídas, Davidovits encontra mais um ponto de apoio para alavancar sua teoria. Afirma ele que as referências que Heródoto faz ao arrastamento de pedras devem referir-se não ao arrastamento de blocos, mas ao de pedregulho, pois o calcário usado nos blocos de revestimento foi, com toda probalilidade, transportado das pedreiras das montanhas arábicas. Ressalta, ainda, que o historiador grego jamais declara que os blocos da pirâmide haviam sido talhados. No que se refere a um canal formado pelas águas do Nilo, o pesquisador entende que tais canais realmente deviam existir para trazer, ao platô de Gizé, a água necessária para desagregar o calcário e à produção de enormes quantidades de cimento.

E o que dizer das "máquinas" citadas por Heródoto em seu relato? Davidovits acredita que elas eram moldes e sugere que se leia o referido trecho substituindo a palavra máquina por molde e a palavra pedra por cascalho, obtendo-se, então, o seguinte:

Foi um trabalho realmente complexo o da construção da pirâmide. Para levar o cascalho aos diversos planos empregavam-se moldes feitos de pequenos pedaços de madeira e situados em diferentes alturas. Ao chegar o cascalho ao primeiro plano, era colocado em outro molde, que o levava para o segundo, onde outro molde o transportava para o terceiro, e assim sucessivamente, até o alto do monumento.
O pesquisador explica que a palavra grega usada por Heródoto foi mechane e que este é um termo genérico, que indica algo inventado ou fabricado. Não é uma palavra específica, mas uma ampla generalização e a falta de conhecimento sobre o método de construção das pirâmides influenciou a maneira pela qual os tradutores a interpretaram. Não só o relato de Heródoto não confirma o corte da pedra, — afirma o químico — mas tampouco implica que os blocos foram içados pirâmide acima. O que existe é uma descrição relativa ao empilhamento de uma pirâmide, fileira após fileira. A descrição em parte alguma afirma que os blocos foram elevados por meio de rampas ou, a partir do solo, por uma máquina, diretamente a grandes alturas.

A afirmativa do historiador grego de que os operários que construíram a Grande Pirâmide foram alimentados com rábanos, cebolas e alhos, que custaram aos cofres do faraó o equivalente a 1600 talentos de prata, foi considerada ridícula por egiptólogos notáveis. Davidovits acredita que aqui as informações foram transmitidas de forma distorcida a Heródoto. Ele esclarece que minerais empregados no processo de fabricação da pedra sintética podem emitir, quando aquecidos, odores semelhantes ao do rábano, da cebola e do alho. Aquela importância citada, correspondente a mais de 100 milhões de dólares, deve representar, isso sim, o custo de mineração de minerais arsenicais usados na construção da pirâmide de Kéops. Comenta o autor que não é difícil compreender por que não conseguiram explicar bem o método de construção a Heródoto, se é que o conheciam. Ao que parece, não há uma palavra apropriada grega a respeito de tal tipo de pedra, a mais aproximada é polida (xeston). Comunicar a idéia de pedra artificial ou de alguma outra maneira preparada ou manipulada pelo homem, podia facilmente ser entendido mal, especialmente numa conversa com um viajante que desconhecia a tecnologia, através de um intérprete. Além disso, conclui, tradutores modernos obscureceram, por descuido, o texto, ao interpretar mal algumas palavras-chave. Idéias preconcebidas sobre a construção das pirâmides desempenharam um papel importante nas traduções do texto para línguas modernas.