COMO FORAM CONSTRUIDAS


A PEDRA ARTIFICIAL


PARTE QUATRO

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BARSOUM DIANTE DA PIRÂMIDE O químico Joseph Davidovits não ficou sozinho na sua defesa da tese de que as pirâmides foram construídas com pedra artificial. Em dezembro de 2006, cientistas afirmaram que parte das pedras usadas para erguer aqueles monumentos eram sintéticas. Elas teriam sido líquidas e vertidas como concreto durante a construção. Uma revista científica francesa denominada Science et Vie explicou que os estudiosos notaram a diferença entre as pedras das pirâmides e as pedras das pedreiras das quais supostamente foram tiradas.

Michel W. Barsoum, visto na foto acima, egípcio que ensina engenharia de materiais na Drexel University, na Filadélfia, Gilles Hug, do Centro Nacional de Pesquisas Científicas, da França, e Adrish Ganguly, um aluno que concluiu doutorado em engenharia de materiais naquela Universidade, acreditam que algumas das pedras das pirâmides se equivalem a geopolímeros sintéticos. Eles examinaram amostras de vários setores da pirâmide de Kéops (c. 2551 a 2528 a.C.) com a mais recente tecnologia: microscópios eletrônicos, uma tocha de protoplasma e escanemanto com raio X. O que acharam foram relações mineralógicas que não existem em qualquer fonte de pedra calcária conhecida. Por exemplo, compararam as quantidades de silício com as de cálcio e magnésio nas várias amostras. As relações encontradas entre o cálcio e os outros elementos não são encontradas em depósitos naturais de pedra calcária. Também descobriram que algumas amostras de calcita e dolomita estavam hidratadas, o que significa que havia moléculas de água aprisionadas no interior do material, novamente uma situação que não se encontra na natureza.

Finalmente, em algumas das amostras, quando observadas no microscópio, notou-se a presença SÍLICA AMORFAde sílica amorfa, ou seja, com estrutura altamente desorganizada. Entretanto, nas rochas sedimentares a sílica é quase sempre cristalina. A imagem colorida ao lado, produzida pelo escaneamento do microscópio eletrônico, mostra um bloco de camadas internas da pirâmide que inclui sílica amorfa, destacada em vermelho, a qual cimenta o agregado da pedra calcária, destacado em preto, formando uma só unidade. Isso indica que não se trata de pedra calcária sedimentar formada naturalmente. A mistura de cal, areia e barro é de tal ordem que a explicação mais lógica é a de que se trata de pedra artificial. Foto © Michel Barsoum.

É importante salientar que Barsoum e seus colegas não afirmam que as pirâmides foram erguidas apenas com blocos artificiais. Com relação às três pirâmides de Snefru, por exemplo, acreditam que a maioria das pedras tenham sido cortadas das pedreiras e transportadas até o local, o que não significa que a totalidade dos três monumentos tenha sido erguida com pedras naturais. As pedras da câmara em forma de galeria no interior da Pirâmide Vermelha parecem ser artificiais. São muito volumosas e sem qualquer espaço entre elas. O mesmo se diga da grande galeria da pirâmide de Kéops, que é ainda mais impressionante. Eles explicam que considerando-se que o volume somado das pedras das três pirâmides de Snefru é maior que o volume da grande pirâmide de Gizé e que Snefru reinou por 24 anos, enquanto que Kéops reinou por 23 anos, conclui-se que os antigos egípcios estavam capacitados a mover milhões de toneladas de blocos muito rapidamente.

Segundo os cientistas, as pedras sintéticas foram usadas apenas nos níveis mais altos dos ESQUEMA DAS PEDRASmonumentos que, portanto, foram erguidos tanto com pedras naturais quanto com pedras artificiais. Hug afirmou que não há dúvida a respeito disso, pois a química dos dois materiais é bastante e realmente diferente. De acordo com o esquema ao lado, extraído do trabalho dos três autores, as pedras coloridas em azul são, indubitavelmente, artificiais; as pedras coloridas em vermelho são, provavelmente, artificiais; as demais são, na sua maioria, naturais. Até recentemente era difícil para geólogos distinguirem entre pedra calcária natural e o tipo de pedra que poderia ter sido obtido pelo endurecimento do lodo liquefeito. Desta vez foram feitas comparações de pequenos fragmentos das pirâmides com pedras das pedreiras de Tura e Maadi. O que encontraram foram traços de uma rápida reação química que não permitiu cristalização natural... A reação seria inexplicável se as pedras fossem das pedreiras, mas perfeitamente compreensível se aceitarmos que elas foram produzidas como concreto.

Barsoum imagina que os antigos egípcios perceberam que caso colocassem enormes blocos de apoio feitos com pedra artificial no lado externo do monumento, então os blocos do núcleo não teriam que ser cuidadosamente cortados. Assim, eles usaram ao redor do perímetro grandes blocos artificiais de apoio e encheram o centro da pirâmide com pedras naturais. Mas, por que eles não teriam construído a pirâmide inteira com pedras artificiais? Porque, para uma sociedade primitiva, produzir cal a partir da pedra calcária para fazer o concreto era caro em função do alto gasto energético e, além disso, esmagar milhões de toneladas de pedra calcária também não é trivial. De acordo com esse raciocínio, rampas devem ter sido empregadas, mas não até o topo e, sim, apenas até meia altura da pirâmide. Na parte superior deve ter sido empregada pedra artificial, devendo-se considerar que o volume da metade superior do monumento é de apenas 12% do total. O centro das pirâmides está cheio de pedras desiguais e escombros, em maior quantidade do que se supunha anteriormente, principalmente no caso da pirâmide de Kéfren e da pirâmide de Miquerinos.

Os pesquisadores imaginam que pedras calcárias macias foram extraídas na úmida vertente sul TOPO DA PIR&Aacirc;MIDE DE KÉFRENdo planalto de Gizé e, então, dissolvidas em grandes piscinas alimentadas pelo Nilo até se tornarem uma suspensão de partículas insolúveis em água. Cinzas e sal eram acrescentados. A água, ao evaporar, deixava uma mistura úmida semelhante a barro. Esse concreto líquido era levado para o local da pirâmide e acumulado em moldes de madeira, nos quais endureceria em poucos dias. Davidovits e sua equipe do Geopolymer Institute testaram o método e produziram um grande bloco de concreto de pedra calcária em dez dias. A foto acima, copyright de Michel Barsoum, da pirâmide de Kéfren, mostra perfeitamente uma faixa de pedras regulares bem abaixo do revestimento do seu topo. A diferença visivel entre as pedras é atribuída ao fato de que os blocos da porção inferior são naturais, enquanto que as camadas superiores seriam artificiais.

Por outro lado, Guy Demortier, um cientista de materiais da Namur University, na Bélgica, anteriormente cético, relatou para a revista francesa que uma década de estudos o convenceram de que as três pirâmides de Gizé foram realmente feitas com pedras de concreto. Os defensores dessa tese mostram diferenças na densidade das rochas das pirâmides, as quais têm uma massa maior perto da base e bolhas perto do topo, como os antigos blocos de cimento. Entretanto, reconhecem que não poderão provar sua teoria conclusivamente até que as autoridades egípcias lhes dêem acesso a amostras significativas das pedras piramidais. Se a teoria for verdadeira, esta seria a mais antiga aplicação conhecida da tecnologia do concreto, surgida cerca de 2500 anos antes dos romanos começarem a usá-la amplamente em portos, anfiteatros e outras estruturas arquitetônicas.

Mas há controvérsias. Os oponentes desta teoria afirmam que os formatos diferentes das pedrasPEDRAS DA PIRÂMIDE DE MEIDUM mostram que não foram usados moldes e que os egípcios dispunham da força de trabalho suficiente para içar toda a pedra natural que desejassem. Por outro lado, o Egito não possuiria quantidade suficiente de árvores para fazer a quantia necessária de cal, a qual se produz queimando pedra calcária. Com relação a este último aspecto, Barsoum concorda que para erguer os monumentos apenas com pedras artificiais seria necessária uma quantidade indisponível de madeira e combustível para aquecer a cal a 900 graus centígrados. Mas argumenta que na sua teoria o geopolímero produzido artificialmente foi usado, no máximo, em 20% do volume dos blocos. Além disso, depois de consultar Davidovits, ele chegou à conclusão de que teria sido usada uma receita alternativa que usa muito menos cal. Tal receita emprega terra que contém diatomáceas, algas microscópicas que vivem na terra húmida, formando no solo uma espécie de lama gelatinosa e pardacenta. Acima vemos um detalhe da pirâmide de Meidum. Nesse monumento, segundo Barsoum, também existiriam pedras naturais e artificiais.

Robert L. Folk, um professor de geologia da Universidade do Texas, em Austin, que estudou as pedras piramidais, afirma que a idéia de pirâmides de concreto é absurda. É bem sabido — diz ele —, que os egipcios aplicavam algum tipo de revestimento sobre as superfícies que desejavam pintar. Eu suspeito que Barsoum esteja examinando a camada externa. Ele precisa penetrar alguns centímetros a mais na pedra. Por sua vez, o Dr. Zahi Hawass, o mais importante arqueólogo do Egito, responsável pela supervisão e controle de todas as escavações naquele país, afirmou que a idéia de que concreto foi usado é improvável e completamente sem comprovação. Levando-se em conta que as pirâmides foram restauradas muitas vezes com o extenso uso de concreto, Hawass indagou de onde Barsoum retirou as amostras com as quais trabalhou e como pode garantir que não foram tomadas de áreas restauradas em tempos modernos. Rebatendo a crítica, Barsoum afirmou que teria que ser um completo idiota para confundir cimento Portland com aquilo que examinou. Ele informa, em seu relatório, que as amostras da pirâmide de Kéops incluem fatias e um pequeno bloco do revestimento exterior e uma laje do revestimento interno, bem como pedaços grossos, ainda que pequenos, de outra pirâmide. Para comparação mineralógica foram usadas seis amostras diferentes de pedra calcária da vizinhança das pirâmides.

Barsoum é tido como um cientista cuidadoso e respeitável e alguns estudiosos familiarizados com a pesquisa feita por ele, a qual, diga-se de passagem, durou três anos, avaliam que seu trabalho deve ser considerado seriamente. Ponderam que seus argumentos são convincentes e pensam que seu ponto de vista deve ser levado em conta. No final do trabalho Barsoum e Hug afirmam: Nós reconhecemos, por meio deste trabalho, que a natureza é bastante diligente e poderia ter — embora seja improvável — produzido todas as micro estruturas aqui examinadas. Porém, nós acreditamos que nosso trabalho apresenta evidência suficiente para sustentar a possibilidade de que partes cruciais das Grandes Pirâmides foram realmente feitas de pedra calcária reconstituída; somente mais pesquisas dirão.