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ESCONDERIJO DAS MÚMIAS
Os faraós do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) esconderam suas tumbas no Vale dos Reis esperando que isto mantivesse suas últimas moradas a salvo dos ladrões. Mas as brilhantes jóias e a preciosa mobília funerária que lotavam os túmulos reais também fascinaram os ladrões e algumas tumbas foram violadas e roubadas tão logo seus ocupantes foram postos para descansar. A tumba de Tutankhamon, por exemplo, foi ameaçada pelos ladrões pelo menos duas vezes na antiguidade, mas em ambas as ocasiões eles foram pegos ou afugentados pela polícia da necrópole e a tumba permaneceu intacta. No conjunto, se descontarmos os incidentes isolados como este, as tumbas eram bem vigiadas por muitos anos e estavam relativamente seguras.

No final da XX dinastia (c. 1196 a 1070 a.C.) o império egípcio começou a declinar e o país foi afetado por desordem econômica e corrupção excessiva. Nessa época vários túmulos de reis e de nobres foram penetrados pelos ladrões. A atividade dos bandos que trabalhavam à noite no Vale dos Reis jamais poderia ter alcançado grandes proporções se os funcionários dos mais altos escalões da administração das necrópoles não houvessem se beneficiado das rapinas. Um papiro conta que uma comissão real enviada pelo vizir a pedido de Paser, prefeito da margem oriental do Nilo em Tebas, para examinar as tumbas reais, informou que as tumbas estavam intactas. Mas Paser insistiu numa investigação adicional e acabou sendo revelado que várias tumbas haviam sido violadas com a colaboração de Pawera, prefeito da margem ocidental.

Pelo que se vê no documento, as acusações de Paser eram exageradas e provavelmente seu interesse era o de desacreditar seu colega. Entretanto, vários roubos haviam sido mesmo cometidos, inclusive a invasão do túmulo de Ísis, esposa de Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.), de cujo templo em Medinet Habu havia sido levado, também, um santuário dourado portátil. O papiro discute as evidências e relaciona os objetos encontrados de posse dos envolvidos. Outro antigo documento egípcio relaciona nomes de oito ladrões que roubaram uma tumba real. Eles confessaram seus crimes depois de interrogados e torturados com bastonadas nas mãos e nos pés.

Alguns sacerdotes de Amon, que ainda respeitavam os reis e as rainhas falecidos, fizeram o melhor que puderam para proteger as múmias dessa profanação, escondendo-as em esconderijos. Um sumo sacerdote daquela divindade, chamado Pinudjem, que atuou na região tebana na XXI dinastia (c. 1070 a 945 a.C.), foi o primeiro a mover 40 múmias reais e não reais de seus pontos originais de sepultamento, juntamente com todos os artefatos restantes, para sua própria tumba cavada no alto das escarpas rochosas de Deir el-Bahari, na margem ocidental do Nilo em Tebas. Os sacerdotes desembrulharam as múmias, removeram jóias e amuletos, e cuidadosamente tornaram a embrulhar e rotular os reis e rainhas antes de escondê-los na tumba de Pinudjem. Tal atitude foi tomada em parte como um ato de devoção e em parte para obter valores para as necessidades dos governantes da época.

No século XIX da nossa época, um pastor, ao tentar salvar uma de suas cabras que caira numa funda fenda rochosa, achou o esconderijo das múmias. Ele e sua família mantiveram segredo da descoberta desse verdadeiro tesouro egípcio, repleto com os ataúdes dos faraós mais importantes do Império Novo. Alguns dos artefatos foram vendidos no mercado de antiguidades pelos parentes do pastor, a família de Abdel-Rassoul, até que, em 1881, foram descobertos e todo o conteúdo do esconderijo foi removido para o Cairo. No alto desta página vemos uma figura que ilustra essa operação de resgate.

Oito anos depois, o arqueólogo Victor Loret achou um segundo esconderijo real na tumba de Amenófis II (c. 1427 a 1401 a.C.) no Vale dos Reis. Além da múmia desse soberano, foram achadas mais 13 múmias, nove das quais também são de faraós. Elas haviam sido levadas para aquele local pelos sacerdotes de Amon, por razões de segurança, em algum momento durante a XXI dinastia. Identificações foram afixadas em alguns dos corpos, mas outros não estão identificados e ainda estão sendo pesquisados pelos egiptólogos na busca da descoberta de seus nomes. Famosos faraós como Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.), Amenófis III (c. 1391 a 1353 a.C.) e Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) foram encontrados nos esconderijos, bem como rainhas e sumos sacerdotes de Amon bastante conhecidos.