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CIDADE

As casas e palácios do Egito antigo eram construídas de tijolo e, ao contrário dos templos que eram construídos em pedra, não resistiram ao passar dos séculos. Apenas duas cidades foram razoavelmente preservadas: Hotep-Sanusrit e Akhetaton. Ambas surgiram de forma planejada por ordem dos faraós, mas tiveram curta existência e foram abandonadas bruscamente. A primeira não chegou a durar um século e a outra se manteve apenas por um período um pouco maior do que o reinado de Akhenaton. De qualquer maneira, permitiram que os arqueólogos estudassem detalhes da vida cotidiana na zona urbana.

São poucas as cidades egípcias que puderam ser desenterradas pelos arqueólogos. Dentre elas podemos citar a vila dos trabalhadores em Deir el-Medina (foto acima) e as que foram mandadas edificar por Sesóstris II e Akhenaton. A cidade de Hotep-Sanusrit foi construída pelo faraó Sesóstris II (1897 a 1878 a.C.) na assim chamada região do Fayum. Pierre Montet diz que ela era fechada numa muralha que mede trezentos e cinquenta metros por quatrocentos, foi concebida para alojar muita gente, num espaço restrito. O templo foi edificado fora de portas. Uma espessa muralha cortava a cidade em duas seções, uma destinada aos ricos, outra destinada aos pobres. Esta era atravessada por uma avenida de nove metros que formava ângulos retos com numerosas ruas mais estreitas. As casas foram agrupadas de modo a que as traseiras se defrontassem para que as fachadas dessem para a rua. A exiguidade das salas e dos corredores é surpreendente. O bairro elegante é percorrido por ruas largas que conduziam ao palácio e ao alojamento dos altos funcionários. O seu tamanho é mais ou menos cinquenta vezes superior ao das casas do povo. Todo o espaço é ocupado pelas casas e pelas ruas. Nessa cidade não se previu qualquer área que servisse para que as pessoas pudessem passear ou se distrair. Isso, porém, não era o que acontecia habitualmente.

Outro gênero de cidade foi a aldeia dos trabalhadores de Deir el-Medina, uma comunidade encarregada de construir os túmulos dos faraós no assim chamado Vale dos Reis. Possuia cerca de 70 casas, era cercada de muros e nela viveram os operários e sua famílias a partir do reinado de Tutmósis I (c. 1504 a 1492 a.C.). Nas proximidades da aldeia ficavam os túmulos dos próprios trabalhadores e as capelas dos deuses locais. Normalmente os operários permaneciam trabalhando por 10 dias no Vale dos Reis e passavam os dias de descanso e os feriadas das festas religiosas na aldeia, junto com a família. Os salários eram pagos em espécie, principalmente cereias e também peixes e legumes e, mais raramente, carne, vinho e sal.

Por sua vez Akhetaton era uma cidade de luxo. Foi o faraó Akhenaton (c. AKHETATON1353 a 1335 a.C.) que a mandou construir em um vasto terreno semi-circular situado entre o rio Nilo e a montanha. Na ilustração ao lado vemos uma pequena parte das suas ruínas. Pierre Montet descreve assim o cenário da cidade como um todo: Uma avenida paralela ao rio atravessava a cidade de um a outro extremo e cortava outras avenidas que conduziam ao cais, à necrópole e às pedreiras de alabastro. O palácio governamental, o templo, os edifícios da administração e os armazéns formavam o bairro central. Nas ruas as casas modestas alternavam com prédios mais luxuosos que os investigadores têm atribuído aos membros da família real. Para as plantações de árvores e para os jardins reservavam-se vastos espaços, tanto nas propriedades como nos terrenos urbanos. Os trabalhadores da necrópole e das pedreiras foram alojados à parte, numa aldeia cercada por uma muralha.

Já Tebas, que Homero descreveu como a cidade das cem portas, possuia um imenso conjunto de monumentos — hoje conhecido como aldeia de Karnak — que existia desde o tempo do faraó Amenófis III (c. 1391 a 1353 a.C.). Uma avenida de esfinges ligava esse complexo ao temploESFINGES de Luxor. Tanto Karnak quanto Luxor eram cercados por muralhas de adobe interrompidas por várias portas monumentais de pedra, com portais feitos de cedro do Líbano e guarnecidos de bronze e de ouro incrustado. Estas portas eram fechadas em caso de perigo. No interior, — esclarece Montet — as habitações, os armazéns, os entrepostos, hoje desaparecidos, ocupavam uma boa parte do espaço existente entre o templo e as muralhas. Os jardins e os pomares recreavam os olhos. Os rebanhos de Amon pastavam nos parques. Um destes jardins foi representado numa parede da Sala dos Anais por aquele que o tinha mandado plantar, Thutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.), com plantas e árvores importadas da Síria. Entre as duas muralhas, de cada lado da álea das esfinges e à beira do rio, sucediam-se os edifícios governamentais e os palácios. Cada rei queria possuir o seu. As rainhas, os príncipes, os vizires e os alto funcionários eram um pouco menos ambiciosos. Como a cidade não tinha cessado de aumentar durante as três primeiras dinastias é provável que as casas mais modestas e as da classe mais pobre se intercalassem no meio destas opulentas moradias, em vez de formarem um bairro separado como em Hotep-Sanusrit. Veja outro aspecto da avenida de esfinges clicando aqui.

As muralhas que cercavam tais cidades chegavam a medir 300, 400 e até 500 metros de lado e estavam postas sobre bases de 15 metros de largura, atingindo alturas de mais de 20 metros. Do lado de fora nada se via do interior das cidades a não ser as pontas dos obeliscos, as cornijas dos pilones e as coroas das estátuas colossais.

A localidade de Médinet-Habu, que ficava em frente a Luxor, foi durante GRANDE PORTAvários séculos o centro da vida administrativa e econômica de toda a região de Tebas. A foto ao lado mostra a grande porta do templo funerário de Ramsés III naquele local. É sobretudo em Médinet-Habu — observa Montet — que nos damos conta do aspecto que estas cidades fechadas podiam apresentar quando foram construídas. Uma barca depunha o visitante junto de uma escadaria dupla; depois transpunha-se uma muralha muito baixa, flanqueada por duas guaritas, guarnecida de seteiras e separada da grande muralha de adobe por uma vereda destinada às rondas. Esta era interrompida por uma porta fortificada que se assemelhava a um migdol sírio. Eram duas torres altas e simétricas, separadas por um intervalo de seis metros que precedia um edifício cuja entrada tinha a largura suficiente para deixar passar um carro. Os baixos-relevos que ornavam as paredes exaltavam o poder do faraó. Os modilhões eram suportados por cabeças dos eternos inimigos do Egito: líbios, árabes, negros e núbios. Uma pessoa devia sentir-se pouco à vontade entre estas muralhas. Passada a porta, o visitante encontrava-se num pátio espaçoso, limitado ao fundo pela parede de uma terceira muralha que cercava o templo, o palácio, o harém, os pátios e os edifícios. Pequenas habitações apertadas umas contra as outras, de uma parte e de outra da álea central, bordavam por três lados esta terceira muralha. Os sacerdotes do templo e numerosos laicos formavam a população permanente da pequena cidade onde o rei residia quando vinha da margem esquerda com as suas mulheres e os seus numerosos criados.

O aspecto exterior de tais cidades era austero, mas em seus interiores palácios dourados, casinholas cinzentas e maravilhas arquitetônicas se misturavam de maneira curiosa. Por vezes príncipes e princesas cruzavam as avenidas e os pátios e cânticos e músicas festivas ecoavam nos palácios. Em geral, porém, o movimento era apenas de rebanhos, de filas de escravos carregando fardos na cabeça ou nas costas, de soldados, de funcionários do fisco, de pedreiros e artífices, de estudantes e aprendizes. E todos circulavam em direção às oficinas, aos armazéns, às cavalariças, aos matadouros e aos locais de aprendizagem em meio a muita poeira e gritaria.

Na região do Delta também se ergueram cidades importantes. Uma delas chamava-se Hat-uârit e era uma velha cidade de teólogos, centro do culto do deus Seth. No tempo dos Hicsos foi capital destes invasores e ficou estacionária quando eles foram repelidos do Egito. Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) reviveu-a, transformando-a em residência real. Aqui também o templo e outros edifícios estavam cercados por uma grande muralha de tijolos interrompida por quatro portas, das quais partiam canais e estradas para os quatro pontos cardeais. Leões com rosto humano, — conta Montet — de expressão terrível, de granito preto, esfinges de granito rosado encaravam-se ao longo das áleas calcetadas com blocos de basalto. Às portas velavam leôes deitados. Diades e Tríades, colossos de pé e sentados, muitos dos quais rivalizavam com os de Tebas e ultrapassavam os de Mêfis, encontravam-se alinhados diante dos pilones. O palácio resplandecia de ouro, lápis-lazúli e turquesa. As flores vicejavam por todo o lado. Estradas umbrosas atravessavam os campos admiravelmente cultivados. As mercadorias desembarcadas da Síria, das ilhas e do Ponto empilhavam-se nos armazéns. Destacamentos de peôes, companhias de archeiros, os carros, e as equipagens da frota, tinham os seus quartéis e depósitos perto do palácio.

Além da população egípcia, líbios e negros ali conviviam misturados aos asiáticos e a outros nômades que não desejavam abandonar o Egito. Assim, aos poucos a cidade ia crescendo e criando novos bairros com seus próprios templos cercados por muralhas de tijolo. Um cemitério surgiu, porque aqui não havia o deserto onde os mortos pudessem ser enterrados. Os túmulos das pessoas e dos animais sagrados eram erguidos na cidade, fora de portas ou dentro dos muros, bem próximos ao templo. Por falta de espaço eram túmulos pequenos sem a grandiosidade, por exemplo, dos de Mênfis.

As paisagens não eram áridas. Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.) foi um dos faraós que se preocupou em ampliar jardins, adornar estradas com flores e plantar pomares com vinhas e olivais. Assim, as muralhas de tijolo contrastavam com o verde da vegetação e as pessoas podiam abrigar-se à sombra das grandes árvores; à beira do Nilo. Nos pátios dos templos as esculturas eram valorizadas pelas flores.

O abastecimento de água das cidades era feito por poços. Evitava-se assim o trabalho de buscar o líquido fora dos muros. Tanques de pedra permitiam que se obtivesse água descendo uma escada. Um destes poços, com cinco metros de diâmetro, encontrado pelos arqueólogos em um templo da cidade de Pi-Ramsés é descrito por Pierre Montet, que fala também na descoberta de um tipo de canalização que talvez servisse para o abastecimento de água: Descia-se ao fundo do tanque por uma escada coberta de quarenta e quatro degraus, em dois corpos separados por um patamar para descansar. No próprio poço podia-se continuar a descer por uma escada em forma de ferradura e encher os jarros mesmo durante o período em que a água era escassa. Fora desta época era mais simples fazer subir a água até ao tanque por meio de um shaduf que uma calha de pedra ligava a um segundo tanque existente no próprio templo. Na parte oriental da cidade descobrimos várias canalizações de cerâmica de diferentes modelos, profundamente enterradas. A mais importante era composta de vasos sem fundo que engrenavam uns nos outros e que foram cuidadosamente ligados com cimento. Não foi possível até agora seguir estas canalizações em toda a sua extensão, descobrir o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada. Não só não pudemos datá-las, mas ignoramos até se serviam para fornecer água potável ou para esgoto das águas já utilizadas. No entanto, é importante assinalar a existência destes trabalhos que provam que a administração faraônica não era indiferente nem ao bem-estar dos habitantes nem à saúde pública.