OS CONDUTOSPARTE DOIS



Conduto Norte da Câmara do Rei

TÚNEL DE CAVIGLIA Em sua extremidade inferior o conduto norte da câmara do rei começa com uma seção horizontal de 2,63 m de comprimento. Seu primeiro bloco, como todos os demais blocos das paredes da câmara, é de granito. Nesse ponto o conduto é formado por três pedras. A seguir o conduto volta-se para cima e simultaneamente inclina-se para oeste. Aqui existe um trecho no qual os blocos do piso do conduto foram destruídos quase que completamente pelo Capitão Caviglia. Em 1817, esse pesquisador cavou a parte inferior dessa seção e formou um túnel que acompanha o trajeto do conduto. A foto ao lado mostra um arqueólogo na parte final do túnel de Caviglia, podendo ser vistos no topo os restos do conduto original.

Antes do uso da robótica na inspeção dos quatro condutos da pirâmide, acreditava-se que os desvios sofridos pelo conduto norte da câmara do rei tinham sido resultado de erro de planejamento, o qual não teria previsto que o trajeto do conduto iria entrar em conflito com a grande galeria. Mas hoje se sabe que o conduto norte da câmara da rainha também se desvia para evitar aquela galeria. Portanto, ao chegarem ao nível da câmara do rei, o conflito já era óbio para os construtores. Porque, então, eles não alteraram o posicionamento da entrada do conduto para resolver o problema? Porque repetiram uma situação de conflito, com imenso custo em termos de tempo e energia? Uma explicação razoável é a de que a posição das entradas dos condutos nas câmaras estavam condicionadas criticamente a um ponto exato, seja por razões de ordem tecnológica ou religiosa, de tal maneira que nenhum desvio de tais entradas poderia ser tolerado.

Após o túnel aberto por Caviglia, o conduto continua subindo, a partir do seu sexto bloco, num ângulo constante de 32,60°. Um pequeno desvio da trajetória se inicia no final de seu 20.º bloco. O maior bloco de todo o trajeto é o 23.º, com 4,37 m e seu teto está parcialmente inacabado. Também se encontra inacabado o teto do bloco seguinte. Do 25.º bloco até o 32.º, onde emerge no exterior da pirâmide, o conduto corre através de um túnel escavado por ladrões de túmulos desconhecidos. A perfuração desse túnel destruiu completamente o teto e a parede leste do conduto, mas sua parede oeste permaneceu intacta ao longo de toda a extensão do túnel e não apresenta qualquer característica especial.

Conduto Sul da Câmara do Rei
O conduto sul da câmara do rei começa, em sua extremidade inferior, com uma seção horizontal de 1,72 m de comprimento formada por um bloco de granito. Caçadores de tesouros cavaram um túnel redondo no bloco que fica imediatamente acima do conduto propriamente dito. Quando o segundo bloco se inicia o conduto inclina-se para cima num ángulo de 39,20º. Essa parte do conduto parece ter sido alargada após sua construção inicial, provavelmente pelos mesmos caçadores de tesouros já mencionados. No terceiro bloco a inclinação para cima aumenta e atinge 50,54º, mantendo-se até o final do quarto bloco. Desse ponto em diante a inclinação diminui para 45º e permanece assim até a saída do conduto para o exterior do monumento. O final do quinto bloco foi deixado inacabado, o que faz com que sua altura seja de apenas nove ou dez centímetros, ao invés dos cerca de 20 habituais. Nas palavras de Gantenbrink o bloco número cinco foi quase certamente inserido sem autorização do arquiteto ou mestre construtor. A descoberta de vários desses blocos inacabados em ambos os condutos superiores e também no conduto inferior do lado sul parece indicar que os construtores dos condutos trabalhavam em grupos separados. Este grupo aparentemente às vezes ficou para trás, pressionado pela rápida taxa de crescimento das camadas da pirámide e da construção das câmaras. Isto também explicaria as extremas flutuações de ângulo nas proximidades da câmara do rei.

Entre os blocos 15 e 16 os pesquisadores descobriram uma junção vertical,AS JUNÇÕES VERTICAIS que pode ser vista na foto abaixo. Nos condutos tais juntas, as quais têm uma função estática evidente, ocorrem apenas nas proximidades das câmaras. É uma completa anomalia encontrar uma junção vertical totalmente isolada no núcleo da pirâmide. Considerando que é preciso muito maior esforço para moldar e ajustar os blocos em tal disposição, podemos admitir que os construtores devem ter tido uma importante razão estrutural para se darem ao trabalho de deflectir forças no plano horizontal. Esta junta vertical está localizada cerca de 12 m acima de um ponto do conduto sul da câmara da rainha que está sujeito a influências estáticas consideráveis. A estática global nesta área parece diferir daquela nos outros segmentos do conduto. Para um engenheiro construtor esta é uma pista significativa da possível existência de uma estrutura ainda não descoberta nas proximidades destas anomalias estáticas — conclui Gantenbrink.

No final do 17.º bloco o conduto inclina-se ligeiramente para leste. Finalmente, no término do 23.º bloco um detalhe inesperado foi encontrado: a uma distância de 5 metros e 90 centímetos de sua saída para o exterior da pirâmide, o conduto apresenta, em ambas as paredes, pequenos nichos, como se fossem recessos nas duas paredes laterais, cuja função permanece incompreendida. Depois do último bloco original restante, o 25.º, o conduto se estende por mais 1,70 m, trecho restaurado em passado recente, antes de desembocar no flanco da pirâmide.

Conduto Sul da Câmara da Rainha
Depois de uma seção horizontal inicial de 1,96 m de comprimento, a qual penetra no primeiro bloco da parede da câmara da rainha, o conduto inclina-se num ângulo médio de 39,6078°. O oitavo bloco apresenta uma superfície completamente irregular enquanto que o bloco seguinte tem uma parede e o teto irregulares e a outra parede lisa. Aparentemente os antigos construtores egípcios trabalhavam os blocos inicialmente com um cinzel pontudo, o que explica a face desigual, e depois alisavam a superfície com um outro tipo de cinzel. Evidentemente os blocos 8 e 9 ficaram inacabados. Os blocos 16 e 17 não estão perfeitamente justapostos e existe um deslocamento de cerca de quatro centímetros de um em relação ao outro. Esse deslocamento permite que se veja na lateral de um dos blocos uma linha de tinta vermelha que servia de marcação para os operários. Não é possível determinar se o desvio aconteceu durante a construção ou em data posterior. O fato ocorre bem debaixo do nível do chão da câmara do rei. Gantenbrink levantou a hipótese de que o deslocamento possa ter sido causado por um tremor de terra durante a construção da pirâmide.

Do bloco 19 em diante as câmeras do robô mostraram estranhos arranhões nas paredes do conduto que se estendem até o vigésimo sexto bloco. Dependendo da textura da superfície das paredes, tais arranhões aparecem com características variadas, mas sempre a uma altura de dois a três centímetros do chão do conduto. Os arranhões não são muito profundos e só são visíveis porque penetram a pátina das pedras. Considerando-se que os arranhões se estendem por cima das junções dos blocos, é óbvio que eles foram feitos depois que esse trecho do conduto foi terminado. Parece que algo foi arrastado pelo conduto após sua conclusão. Logo após a junção entre os blocos 20 e 21 existe um pouco de argamassa branca, provavelmente gesso, presa à parede ocidental do conduto e formando um pequeno canal em sua parte inferior, o que dá a impressão de que ali, originalmente, alguma coisa esteve presa à parede. Achado semelhante foi feito no início do bloco de número 26 que também apresenta trechos de argamassa disposta em linha reta como se tivesse sido o envoltório de um objeto cilíndrico que depois foi retirado deixando a argamassa oca. Gantenbrink conjectura: Pode haver uma conexão entre estas marcas ocas e os arranhões. É bastante possível que a argamassa tenha sido usada para fixar cordas temporariamente à parede do conduto. Estas cordas poderiam ter sido removidas mais tarde dando-lhes um forte puxão, fazendo com que a argamassa se quebrasse e deixando para trás o tipo de marca oca dos fios que nós observamos hoje.

No começo do vigésimo sexto bloco uma grande parte do chão do conduto se quebrou. Embora esse seja o pior dano observado em toda a extensão dos vários condutos, a pressão naquele local sobre o conduto é apenas um terço do valor máximo. Ou seja, próximo da câmara da rainha 115 metros de material da pirâmide pressionam o conduto para baixo, enquanto que no ponto ao qual nos referimos apenas 35 metros de material exercem pressão. Esse fato altamente incomum — escreveu Gantenbrink — só pode ter sido o resultado de uma entre duas possíveis causas:
1. Trabalho de construção extremamente inepto debaixo dos blocos 25 e 26. Deve ser lembrado, porém, que é esta seção final do conduto que, por outro lado, exibe o acabamento de melhor qualidade já observado em qualquer lugar do sistema de condutos.
2. A existência de uma estrutura ainda não descoberta abaixo ou acima desta seção do conduto. Tal estrutura poderia produzir um acúmulo de pressão que poderia, por sua vez, centrar uma considerável força adicional no conduto e, possivelmente, causar o dano observado.

Tanto o bloco de número 26 quanto os dois seguintes têm o chão marcado por um longo sulco em seu comprimento. Gantenbrink explica que tais sulcos são produzidos quando se pretende criar junções perfeitas, milimétricas, entre dois blocos. Primeiro trabalha-se com um cinzel as superfícies dos dois blocos que vão ficar em contato. Depois, encosta-se uma na outra e passa-se uma serra pela abertura existente entre os dois blocos, removendo-se o material saliente em ambas as faces das pedras. Esse processo cria uma junção perfeita entre os blocos. Por outro lado, o método também deixa como resultado um sulco provocado pela serra no bloco sobre o qual as duas pedras que foram cortadas se apoiavam. E o que isso significa? Significa que os blocos que formam o chão do conduto nesse trecho específico foram, antes de serem inseridos em seus lugares, usados como base para o corte de junções perfeitas em outros blocos.

A pergunta que surge então é a seguinte: quais foram, exatamente, as junções perfeitas preparadas aqui? Os blocos do conduto em si só foram trabalhados com cinzel. Nove entre cada dez superfícies dos blocos dos condutos foram, sem dúvida, cinzelados e pode-se concluir com segurança que eles foram construídos sem o recurso do uso de serras. As pedras do revestimento da pirâmide apresentam junções perfeitas, mas as mais próximas encontram-se a 19 metros de distância desse ponto do conduto e foram cortadas em sua posição final. Sabe-se disso porque as pedras localizadas diretamente em baixo das pedras do revestimento exibem sulcos provocados por serras. O sistema de corredores e câmaras da pirâmide, que também possuem junções perfeitas, foram concluídas muito tempo antes de ter sido alcançado o nível de construção desse conduto. Tomadas em conjunto, no entender de Gantenbrink, tais constatações levam a uma conjectura inevitável da existência de uma possível estrutura, ainda não descoberta, nesta região superior do conduto sul da câmara de rainha, para a qual junções perfeitas foram ali preparadas.

O bloco 27 é parcialmente polido, enquanto que o bloco 28 é extremamenteLAJE NO CONDUTO bem acabado, polido com perfeição e de um material em tom mais claro que o dos outros blocos. E aqui a grande surpresa! Nesse ponto o conduto está fechado por uma laje fora do comum, perfeitamente polida. Projetando-se de dois orifícios perfurados na pedra existem dois artefatos de cobre curvos e ligeiramente cônicos que se parecem com alças. As aberturas dos orifícios estão vedadas por uma massa preta semelhante a piche. A "alça" da esquerda está quebrada pela metade e o pedaço que se partiu foi encontrado no chão do conduto. Os dois artefatos de cobre apresentam marcas redondas e brancas que parecem feitas por um material semelhante a gesso e que descoloriram tanto as "alças" quanto a pedra. A laje parece ser removível, pois não se mantém no lugar presa por qualquer tipo de argamassa, mas sim por encaixes em sulcos existentes nas laterais e no teto do conduto.

Em 2002 um robô foi construído especialmente para examinar o que se escondia por trás da laje misteriosa, a qual, inadequadamente, foi chamada de "porta". Usando ferramentas de ultra-som, o mecanismo determinou que a espessura da laje era de apenas 5 cm e perfurou com precisão um pequeno buraco de 2 cm de diâmetro no bloco. Uma pequena câmera de vídeo foi inserida pelo orifício e revelou a existência de uma pequena câmara com 17 cm de comprimento bloqueada por outra pedra de aspecto rústico. Atualmente estão sendo realizados estudos que indicarão os próximos passos das pesquisas.

Conduto Norte da Câmara da Rainha
O início do conduto norte da câmara da rainha é formado por uma seção horizontal de 1,93 m de comprimento e, a seguir, ele se desvia para cima num ângulo de ascensão que varia entre 33,3º e 40,1º. O quarto bloco mostra claramente que uma mudança de ângulo foi feita naquele ponto e Gantenbrink comenta que isso parece indicar que os construtores se viram frente a um conflito com a grande galeria — que deveria estar sendo contruída concomitantemente — e, assim, viram-se impossibilitados de manter exatamente o ângulo originalmente planejado para o conduto.

Na altura da metade do bloco 8 a parede oeste do conduto exibe uma estranha e larga estria preta que vai do chão ao teto. Essa faixa negra está parcialmente interrompida por marcas de cinzel, na maioria das vezes perpendiculares a ela. Achado quase idêntico foi feito no começo do nono bloco, também em sua parede oeste. Neste caso, porém, a estria não é larga, mas sim composta de duas linhas paralelas, também interrompidas por marcas de um cinzel.

Dentro do conduto, Waynman Dixon, o homem que descobriu a entrada dosGANCHO ENCONTRADO POR DIXON condutos da câmara da rainha, havia encontrado um objeto de cobre, de cor verde, em forma de gancho, com cinco centímetros de comprimento, o qual, segundo ele, um dia estivera preso por rebites a um cabo de madeira. O gancho de fato tem dois rebites presos a ele. É possível que Dixon tenha encontrado restos de madeira presos aos rebites, mas não há certeza se de fato existia um cabo de madeira para a peça e, em caso afirmativo, qual teria sido sua forma. Agora os pesquisadores encontraram, na segunda terça parte do bloco 9, junto a um acúmulo de material escuro indefinido, um pequeno objeto retangular que parece ter dois orifícios perfurados nele. Constatou-se, ainda, que o espaço entre os rebites no gancho coincide exatamente com o espaço entre os buracos do objeto retangular agora encontrado. Assim, esse último pode muito bem ter estado preso originalmente ao gancho.

Ao terminar o bloco 9, o conduto inclina-se aproximadamente 45° para oeste com o objetivo de evitar a estrutura da grande galeria. Nesse ponto foi localizada uma vara quadrada de madeira, a qual Dixon já havia encontrado em 1872. Não tendo podido retirá-la, ele diz em seu diário que fazia parte de um sarrafo maior que acidentalmente se quebrara. Isso parece indicar que o próprio Dixon causou a fratura ao forçar a madeira na tentativa de retirar a vara. Parece muito provável que o gancho de cobre estivesse originalmente preso a essa longa vara quadrada de madeira, cujos restos ainda pemanecem dentro do conduto.

Em 1993 o robô usado pelos arqueólogos não estava tecnicamente preparado para enfrentar a curva que se apresentava à sua frente. Assim, depois da prospecção se extender por 18 metros, teve que ser interrompida. Esses resultados iniciais intrigaram os egiptólogos desde aquela época. Em 2002, o mesmo robô que foi especialmente projetado para penetrar no conduto sul da câmara da rainha explorou também esse conduto do lado norte e encontrou, no seu final, uma laje idêntica àquela que encontrara no lado sul, igualmente com dois artefatos de cobre parecendo alças presos a ela, desta vez inteiros. Tanto essa "porta" quanto a do conduto sul estão localizadas à mesma distância da câmara da rainha. A perfuração dessa pedra de bloqueio do conduto norte está sendo planejada pelos técnicos enquanto os arqueólogos estudam se as "portas" tinham papel estrutural ou simbólico.

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Os Condutos — Parte 3
Os Condutos — Parte 1

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