A PADROEIRA DAS MULHERES GRAVIDAS


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TUÉRIS ERA A DEUSA-HIPOPÓTAMO que protegia as mulheres grávidas e os nascimentos. Ela assegurava fertilidade e partos sem perigo. Adorada em Tebas, é representada em inúmeras estátuas e estatuetas sob os traços de um hipopótamo fêmea erguido, com uma peruca feminina, com patas de leão, um ventre generoso de fêmea grávida, mamas pendentes e costas terminadas por uma espécie de cauda de crocodilo. Sua aparência grotesca visava, provavelmente, prevenir contra os espíritos malígnos e combinar os poderes terríveis do hipopótamos, do leão e do crocodilo na proteção da mãe e de seu filho. Ela simbolizava a fecundidade, sempre velando pelas parturientes e facilitando os nascimentos. Além de amparar as crianças, essa divindade também protegia qualquer pessoa de más influências durante o sono. Os egípcios chamavam-na de A Grande e o termo foi traduzido para Tuéris pelos gregos.

A DEVOÇÃO POPULAR para com os grandes deuses sem dúvida existia mas — diz o egiptólogo Alan Shorter — há indícios de que as massas incultas preferiam quase sempre se entregar à proteção de divindades mais rústicas, que provavelmente se interessariam mais por suas modestas aspirações e interesses. Uma delas era a deusa Tuéris, a quem as mulheres grávidas do Egito Antigo se dirigiam pedindo um parto feliz. Embora não existissem templos dedicados a ela, há evidencias de que o seu culto fazia parte dos rituais celebrados nos altares domésticos. Além disso, é comum o aparecimento de sua imagem na decoração dos objetos de toalete e de outros de uso familiar, mostrando suas virtudes de protetora, pois ela é terrível quando defende sua prole. No contexto funerário, mãe do rei e dos mortos, ela os acompanha em seu renascimento.

ESSA DIVINDADE FOI MUITO REVERENCIADA em todos os períodos da história egípcia e em todos os níveis da sociedade. Supunha-se que as imagens dos deuses tinham poderes sobrenaturais, que possuir uma simples estatueta já proporcionava o amparo desejado e, assim, os egípcios usavam muitos amuletos para se protegerem. Entre o leque de deuses carregados como amuletos, a deusa Tuéris desempenhava um papel especial. Vários amuletos dessa divindade foram encontrados pelos arqueólogos, inclusive em templos, nos quais eles eram depositados como oferendas votivas. O egiptólogo Kurt Lange nos conta:
Três deles, que fazem parte da coleção do Museu de Berlim, foram curiosamente aperfeiçoados para fins mágicos: dois dentre eles estão cavados de maneira que o ventre inchado da deusa tutelar das futuras mães possa receber fragmentos de vestidos pertencentes às suplicantes; o terceiro pode conter leite que se escapa pelas mamas da deusa. Sem dúvida, as mães inquietas, por não poderem elas próprias amamentar seu filho, haviam recorrido a esse rito mágico.

ÀS VEZES ESSA DEUSA podia ser assimilada a outra divindade, da qual ela poderia trazer o toucado. Nas duas figuras mostradas nesta página isso não acontece. A da esquerda reproduz uma peça em faiança egípcia, com 4,56 cm de altura, do Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.), de proveniência desconhecida e pertencente ao Museu do Louvre. Essa é uma das formas mais simples da divindade. Além de não estar associada a outra deusa, já que a argola de suspensão substitui seu toucado, ela está postada sobre as patas leoninas e não, como é de hábito, sobre o nó mágico, símbolo da proteção que ela encarna e que ela oferece àquele que a honra. Observe, ainda, a cauda de crocodilo nas costas.

JÁ A FIGURA DA DIREITA mostra outra peça em faiança, do mesmo período, pertencente à coleção permanente de arte egípcia antiga do Museu da Emory University, da cidade de Atlanta, nos Estados Unidos. Sua proveniência e função exata é desconhecida, mas supõe-se que ou fazia parte de algum relicário doméstico, ou foi depositada como oferenda votiva em algum templo.


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