A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido A Batalha em Megido

Introdução

Os Faraós como Deuses

Os Faraós como Guerreiros

Os Faraós como Governantes

Os Faraós como
Seres Humanos


Os Nomes
dos Faraós


O Poder
dos Faraós


A Justiça
dos Faraós


As Vestimentas
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As Sandálias
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O Casamento
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As Famílias
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A Corte
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Os Faraós no Além-túmulo

Os Faraós no Além-túmulo
Parte 2


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dos Faraós


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no Trono


Biografias
dos Faraós


Apêndices

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ARMAS Megido era uma cidade extremamente fortificada, um ponto de importância estratégica do norte da Palestina. Daquele local via-se do alto a rota que os egípcios podiam tomar através da Síria para a Mesopotâmia. Um inimigo ali instalado teria condições de impedir os súditos do faraó de alcançarem o resto de seu império. O príncipe de Kadesh, apoiado pelo rei de Mitani, havia feito uma coalizão com os chefes vassalos do Egito das cidades da Palestina e do norte da Síria. Feito o acordo, as cidades se rebelaram abertamente contra Egito obrigando Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.) a atacar. O maior triunfo das diversas campanhas na Síria conduzidas por este faraó foi, justamente, o assalto à fortaleza de Megido.

E não deve ter sido uma tarefa fácil, se levarmos em conta as armas disponíveis naquela época: a clava, o machado, do qual havia dois tipos, e a lança, como vemos na figura acima, além dos arcos e flechas, recursos que faziam parte do armamento básico do exército egípcio. Na Sala dos Anais do templo de Amon em Karnak, esse faraó mandou gravar trechos de seus diários de campanha. São extratos dos boletins de campanha redigidos no dia-a-dia, nos quais figuram a direção da marcha, as distâncias percorridas, as vilas conquistadas e outras observações. No conjunto tais resenhas nos dão a conhecer o desenrolar aproximado de cada campanha e seus respectivos resultados. Os registros de Tutmósis III narram todos os acontecimentos:

Ano 23, primeiro mês da estação do verão, 5º dia: partida deste lugar em potência, força, poder e triunfo para vencer o miserável inimigo e para estender as fronteiras do Egito, porque seu pai Amon, o poderoso e vitorioso, lhe ordenou que fizesse a campanha.
Pleno de energia, o exército do faraó percorreu 240 km entre a fronteira egípcia e a localidade de Gaza em dez dias. A seguir, por motivos estratégicos e de segurança militar, o avanço tornou-se mais lento e foram gastos 11 dias para percorrer os 130 km que separam Gaza de uma vila situada ao sul da Cordilheira do Carmelo.
Ano 23, primeiro mês do verão, 16º dia: chegada à cidade de Yehem. Sua Majestade ordenou um conselho de guerra com seu valente exército e disse: "Esse miserável inimigo de Kadesh chegou e entrou em Megido. Ele está lá nesse momento. Ele reune em torno de si os chefes de todos os países estrangeiros que estão submetidos ao Egito e aqueles tão distantes quanto Naharin e Mitani, e os de Khor e Qedy com seus cavalos, suas tropas e sua gente."
Diante do exército egípcio havia dois caminhos para atingir a cidade como se fossem as duas pernas de um compasso que se curvassem para dentro. Um deles, seguindo numa linha direta para Megido, era uma passagem estreita e difícil na montanha, pela qual ninguém esperaria que ele passasse. Os generais egípcios pretendiam avançar ao longo da outra via, cujo trajeto executava uma curva ao norte, mas Tutmósis III, que era um grande estrategista e fazia sempre o inesperado, decidiu avançar através da passagem estreita, embora na maior parte do caminho seus cavaleiros tivessem que andar em fila indiana. Quando perguntou aos comandantes o que eles pensavam, relatam os anais:
Eles falaram na presença de Sua Majestade: "Como? Marchar nesta rota que se torna tão estreita quando se diz que os inimigos ali estão nos esperando e que são numerosos? O cavalo não terá que marchar atrás do cavalo e o homem atrás do homem? Nossa vanguarda não estará já combatendo enquanto nossa retaguarda estará ainda em Aruna sem poder lutar? Há entretanto duas outras rotas: uma passa a leste de nós e vai dar em Taanak, a outra passa ao norte de Djefti, de maneira que nós sairemos ao norte de Megido. Possa nosso valente senhor avançar pela rota que lhe pareça a melhor, mas não nos faça ir por essa rota difícil."
Então chegaram algumas mensagens referentes às manobras dos inimigos, que os textos não especificam quais foram, e o faraó deliberou sobre o que havia sido dito anteriormente:
"Eu juro, como Rá me ama, como meu pai Amon me louva, como minhas narinas são rejuvenescidas pela vida e pelo poder, Minha Majestade marchará por esta rota de Aruna! Confiem aqueles dentre vós que quereis tomar essas rotas que mencionastes. Confiem aqueles dentre vós que quereis seguir atrás de Minha Majestade. Sim, eles dirão, esses inimigos que Rá abomina: ´Sua Majestade vem por uma outra rota porque ele tem medo de nós?´ Eis o que dirão."
Conclamados por tais palavras, os comandantes uniram-se em torno do faraó:
Então ele disseram à Sua Majestade: "Possa teu pai Amon, Senhor dos Tronos das Duas Terras, o Primeiro de Karnak, agir de acordo com o teu desejo. Nós seguiremos Tua Majestade para todos os lugares a que Tua Majestade for. Um servidor deve seguir seu mestre!"
Para inspirar seus seguidores com a própria coragem, o destemido monarca marchou na frente das tropas com uma imagem do deus Amon-Rá, o qual havia prometido a vitória. Ao que parece a divindade trabalhou em favor dos egípcios porque o inimigo permaneceu tranquilo no extremo norte da estreita passagem, enquanto o exército do faraó vencia o desfiladeiro. O deslocamento durou o dia todo e parece incrível que os asiáticos o tivessem permitido tão estupidamente. A manobra ousada do rei foi um sucesso completo. Antes que pudesse ser compreendida pelo inimigo, o exército do faraó já estava se espraiando na planície. Ele transtornou os planos da aliança asiática, que havia dividido suas forças para esperar o avanço dos egípcios pelo norte e pelo sul, e que ocupara, sem dúvida, posições estratégicas. O príncipe de Kadesh reunira uma formidável coalizão de cidades-estados, cujos elegantes régulos guiavam grandes carros de ouro e prata e acampavam em vistosas tendas guarnecidas com móveis lindamente marchetados. Os dois exércitos permaneceram acampados durante a noite e na manhã seguinte Tutmósis III, que também havia posicionado suas tropas estrategicamente, ordenou o ataque:
Ano 23, primeiro mês do verão, 21º dia: precisamente o dia da festa da lua nova. Na aurora, aparição do rei. Ordem foi dada a todo o exército para se deslocar... Sua Majestade avançou sobre um carro de fino ouro, adornado com seus atavios de combate, como Hórus, O de Braço Poderoso, senhor da ação como Montu de Tebas, enquanto seu pai Amon fortificava seus braços.
A batalha se travou às margens do rio. Tutmósis III lançou-se vitoriosamente sobre o inimigo e o desbaratou de tal forma que os asiáticos se desorganizaram e fugiram em confusão, abandonando seus carros de guerra e seu rico acampamento e buscando refúgio na cidade. Os anais relatam:
A ala sul do exército de Sua Majestade estava próximo de uma colina ao sul do arroio de Qina, a ala norte estava a noroeste de Megido, enquanto que Sua Majestade se mantinha ao centro com Amon protegendo seu corpo na batalha e a força de Seth penetrando seus membros. Então Sua Majestade caiu sobre eles à testa de seu exército. Quando eles viram que Sua Majestade arremetia contra eles, fugiram em direção a Megido com os semblantes cheios de pavor...
Os habitantes de Megido haviam fechado as portas da cidade e o inimigo derrotado perambulou freneticamente diante das muralhas até que os moradores estendessem as próprias roupas para que, pendurando-se nelas, entrassem na vila os guerreiros tomados de pânico. Durante trégua de curta duração que se seguiu, o príncipe de Kadesh fugiu acobertado pela noite para retornar a seu país. Se os egípcios não tivessem ficado tão ansiosos para recolher os espólios da vitória, poderiam ter capturado Megido. Mas isso não é de se estranhar se levarmos em conta o alto valor dos tesouros asiáticos. Severamente os anais falam da cobiça das tropas egípcias pelo butim:
Pois bem, se o exército de Sua Majestade não se tivesse dedicado unicamente a apoderar-se das coisas do inimigo, naquela ocasião teria tomado Megido, enquanto as tropas derrotadas de Kadesh e as tropas derrotadas da cidade estavam sendo içadas precipitadamente para introduzi-las na vila.
A fortaleza de Megido era demasiado poderosa para as armas daquela época. Era rodeada por um fosso e uma paliçada e aos egípcios restava-lhes vencê-la pela fome. Haviam chegado à Palestina na época da colheita de trigo e se apoderaram de cerca de 16 mil toneladas desse grão. A cidade foi sitiada por um período de sete meses, de maio a dezembro, o que provocou fome. Nesse entretempo, e apesar dos asiáticos estarem encerrados dentro da muralha, muitos fugiram. Os que restaram, premidos pela fome, numa prática usual significando que os sitiantes deveriam interromper as hostilidades, enviaram seus filhos com as armas para entregá-las ao faraó, ao mesmo tempo em que os guerreiros ficavam em pé sobre a muralha proferindo louvores a Tutmósis III, pedindo que lhes concedesse o alento da vida, elevando as mãos em atitude de prece e oferecendo insenso. Finalmente os príncipes sírios se viram obrigados a jurar submissão ao faraó e fizeram pagamento do tributo que haviam retido durante os últimos anos do reinado de Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.). Quando a cidade se rendeu, o príncipe de Kadesh não estava entre os cerca de 100 príncipes rebelados que foram capturados, mas algumas de suas mulheres foram feitas cativas e levadas posteriormente para o Egito. Uma estela que Tutmósis III mandou erigir na localidade de Gebel Barkal também faz referência ao confronto:
Ele [o deus Rá] me submeteu os países estrangeiros da Síria quando de minha primeira campanha militar, quando eles vieram para medir forças com Minha Majestade em número de milhões, de centena de milhares de homens, os melhores de todos os países estrangeiros, sobre seus carros de guerra, 330 chefes de tribos, cada um acompanhado de seu exército. Eles se reuniram em armas com tal objetivo no vale de Qina. Então Minha Majestade lhes infringiu uma terrível derrota. Minha Majestade os atacou. Eles imediatamente empreenderam a fuga e tombaram em massa. Entraram desabaladamente em Megido. Minha Majestade os sitiou por sete meses antes que eles saíssem e implorassem a Minha Majestade: "Nos dê teu sopro de vida, nosso mestre!" Então todos os vencidos e chefes de tribos enviaram todos os seus filhos com numerosas oferendas em ouro e prata, com os cavalos que possuíam, seus grandes carros de guerra de ouro e prata e também aqueles que eram pintados, todas as suas armaduras, seus arcos e flechas e todas as suas armas...
Faraós anteriores, em idênticas circunstâncias, haviam matado solenemente os príncipes inimigos. Tutmósis III foi magnânimo e sagaz ao procurar conquistar-lhes a gratidão. Perdoou a todos e recolocou-os à frente de seus reinados e principados.
Depois Minha Majestade lhes deu licença para voltarem as suas cidades. Todos se foram montados em asnos e eu fiquei com seus cavalos.
Em contrapartida, tomou os filhos primogênitos dos vários príncipes rebeldes como reféns e os deportou para Tebas, obrigando seus pais a lhe jurarem fidelidade enquanto vivessem. Os jovens foram educados no Egito e iniciados nos preceitos da vida egípcia.

Os documentos registram que houve 83 mortos na batalha e que o butim egípcio foi de 2041 cavalos, 191 potros, seis garanhões, 20000 ovelhas, mais de 2000 vacas, 2000 cabras e 942 carros de combate, além de 200 cotas de malha e muito ouro e prata. Entre os bens estavam os peitorais de bronze dos príncipes de Kadesh e de Megido; a soberba barraca do primeiro com cadeiras e mesas de ébano, marfim e ouro, bem como grande quantidade de baixelas preciosas e de jóias. A riqueza do inimigo era bastante expressiva. Os príncipes asiáticos dormíam em leitos marchetados, viajavam em liteiras marchetadas e fechadas, usavam cajados esculpidos e tinham vasilhas de ouro e prata. Para que se tenha uma idéia do luxo que os cercava, basta dizer que um deles levou para o campo de batalha uma estátua sua de ébano, com adornos de ouro e a cabeça de lápis-lazúli.

TUTMÓSIS III Antes de retornar ao Egito, Tutmósis III ainda capturou três cidades no Líbano e reorganizou a administração do norte da Palestina. O retorno do rei a Tebas foi motivo de grande alegria, pois era a primeira vez na história do país em que um faraó, à frente de um exército egípcio e em solo estrangeiro, havia enfrentado em batalha campal um exército asiático organizado. Era a primeira prova internacional de força e os egípcios haviam se mostrado superiores aos inimigos sob todos os pontos de vista. Para celebrar a vitória foram construídos novos santuários não só em Karnak como em outras localidades e foram organizadas grandes cerimônias e procissões religiosas. A estátua de Amon foi transportada em pompa de Karnak a Luxor e vice-versa. Foram feitas importantes oferendas de touros, pássaros, frutas e vinhos e nuvens de incenso subiram de centenas de altares. Ao lado, foto de uma estátua em basalto de Tutmósis III pertencente ao Museu do Louvre.