Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis Mênfis

Introdução

Os Faraós como Deuses

Os Faraós como Guerreiros

Os Faraós como Governantes

Os Faraós como
Seres Humanos


Os Nomes
dos Faraós


O Poder
dos Faraós


A Justiça
dos Faraós


As Vestimentas
dos Faraós


As Sandálias
dos Faraós


O Casamento
dos Faraós


As Famílias
dos Faraós


A Corte
dos Faraós


O Palácio
dos Faraós


O Lazer
dos Faraós


Os Faraós no Além-túmulo

Os Faraós no Além-túmulo
Parte 2


Os Túmulos
dos Faraós


Mulheres
no Trono


Biografias
dos Faraós


Apêndices

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MAPA DE MÊNFIS Mênfis, nome que os gregos deram à cidade que os egípcios chamavam Mennufer, foi capital do primeiro nomo do Baixo Egito, bem como residência real e capital do Egito durante o Período Dinástico Primitivo (c. 2920 a 2575 a.C.) e o Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.). Muitos faraós posteriores continuaram a ter nela um palácio. Seus templos estiveram sempre entre os mais importantes do país e a cidade sempre se manteve entre as mais populosas e célebres da antiguidade, tendo conhecido séculos de grande esplendor e alcançado seu apogeu durante a VI dinastia (c. 2323 a 2150 a.C.).

Habitada por uma comunidade cosmopolita, seu porto e as oficinas locais tiveram importante papel no comércio exterior do Egito. Apenas Tebas, ao sul, se comparava a ela em importância política, econômica e religiosa. O egiptólogo John Baines nos esclarece que para os estrangeiros, Mênfis representava o Egito. Segundo alguns eruditos, o nome de um dos seus templos do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.), e dos bairros vizinhos da cidade, Hikuptah ("O Templo do ka de Ptah"), deu origem ao nome de todo o país, Aigyptos em grego, o Egito dos nossos dias. Esta é também a etimologia da palavra "copta". Hoje Mênfis se encontra quase que totalmente desaparecida.

Sobre a fundação da cidade o historiador Heródoto, baseado no que me disseram os egípcios, acrescentando à minha narrativa o que tive ocasião de observar com meus próprios olhos, como ele mesmo diz, nos conta:
Foi Menés, primeiro rei do Egito, quem, segundo os sacerdotes, mandou construir os diques de Mênfis. O Nilo, até o reinado desse príncipe, corria totalmente ao longo da montanha arenosa situada na costa da Líbia. Menés, tendo ordenado a construção de um dique de cerca de cem estádios1 pouco acima de Mênfis, fez encher o braço do Nilo que se dirigia para o sul. Pondo a seco o antigo leito do rio, fê-lo retomar o curso por um novo canal, conseguindo, com isso, que ele corresse a igual distância das montanhas. (...) Menés, de acordo com o depoimento dos mesmos sacerdotes, ergueu a cidade que hoje tem o nome de Mênfis, no próprio local de onde havia desviado o rio e convertido em terra firme. A cidade está situada na parte mais estreita do Egito. O mesmo soberano mandou cavar, a oeste de Mênfis, um lago que se comunicava com o rio (o Nilo fecha a cidade a leste), e construiu, nessa mesma cidade, um magnífico templo a Vulcano.

O nome mais antigo que a cidade recebeu foi Ineb-hedi, ou seja, A Parede Branca, ou O Muro Branco, provável alusão ao aspecto da fortaleza que guarnecia a rota do vale e servia como palácio da coroação real. Durante o Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) a região passou a ser denominada de Ankh-tawy, isto é, O que liga as Duas Terras, numa referência ao posicionamento estratégico da cidade, na ponta do delta nilótico. Aliás, deve ter sido justamente essa localização privilegiada que levou os soberanos da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.) a escolherem aquela zona para instalação da capital do país.

Mênfis gozava de uma situação agradável na margem ocidental do Nilo — nos conta o egiptólogo Arthur Weigall —, não muito longe do rio, no meio de campos férteis e de palmeiras umbrosas. Por trás da cidade, declives de rochedos e de areia davam acesso ao deserto. As casas eram de tijolos secos ao sol e caiadas de branco no exterior; as vigas dos telhados repousavam sobre delicadas colunas de madeira, pintadas de cores brilhantes. O mobiliário dos cômodos compunha-se de esteiras de caniço, cadeiras de madeira esculpida agradavelmente acolchoadas, caixas de madeira pintada, mesas entalhadas bem como leitos com pés esculpidos e nos quais o colchão era formado por cordas entre-cruzadas e esticadas em torno de uma moldura. Sobre as mesas havia belos copos de cristal, de alabastro ou de terracota envernizada de azul, pratos de alabastro, de diorito, de brecha calcária ou de outras pedras decorativas que haviam sido trabalhadas até se tornarem tão finas quanto conchas e que tinham, às vezes, bordas douradas. Os pequenos cofres de toalete em ébano e em marfim continham pequenos potes encantadores de alabastro para os perfumes e a maquilagem, as paletas para preparar os produtos protetores das pálpebras, as caixinhas e pratinhos de marfim, agulhas para o cabelo, etc.

O mesmo autor nos conta, ainda, que a região na qual Mênfis estava localizada de há muito era conhecida pelo trabalho artístico de seus oleiros. Era natural, portanto, que fosse construído na cidade um grande templo dedicado ao deus Ptah, tido como o divino artífice dos deuses, patrono dos artesãos, das artes e dos ofícios e cujo sumo sacerdote recebia sempre o título de Grande Mestre Oleiro. Desconhecendo-se o uso da pedra nas construções, os templos e residências eram edificados, provavelmente, com tijolos passados na cal, com o teto apoiado em colunas de madeira decorada. Por outro lado, a pedra já era empregada na estatuária e com ela se fabricava a estátua do deus que ficava encerrada no âmago do templo.

As pessoas que percorriam as ruas da cidade estavam vestidas de linho fino — prossegue Weigall —; os homens vestiam um saio curto e às vezes um manto e as mulheres uma veste longa e justa com um corpete colorido que era pouco mais do que uma camisinha de criança; os dois sexos usavam colares em cores vivas; as jóias já eram então magníficas, compostas de pedras semi-preciosas tais como a ametista, a turquesa e a cornalina, ou de pasta de vidro e incrustadas em ouro.

Não se conhecia ainda a roda e o camelo e o cavalo ainda não eram utilizados. O que não pudesse ser transportado por homens ou por asnos era colocado em trenós que deslizavam facilmente pelos caminhos, principalmente quando precedidos por um homem que derramava água à sua frente. As pessoas ricas deslocavam-se principalmente em liteiras cujos varais repousavam sobre os ombros de quatro homens; ao caminharem, empunhavam um grande bastão que manejavam com grande dignidade. As mulheres não usavam véus e circulavam livremente realizando seus afazeres; sua condição social era elevada e, do ponto de vista legal, até mais alta que a dos homens.

Demonstrando que Mênfis permaneceu sempre uma das cidades mais importantes do Egito, muitos e muitos séculos depois, Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), dirigindo-se ao deus Ptah, mandou inscrever em seu templo de Abu Simbel:

Em Mênfis ampliei teu templo, edifiquei-o graças a um trabalho assíduo e adornei-o com ouro e ricas pedras preciosas...
Nessa época a cidade era o centro de fabricação de carros de guerra e issoESFINGE DE ALABASTRO EM MIT RAHINA representava uma parte importante da produção industrial egípcia. Pessoas de todas as nações, raças e religiões viviam e trabalhavam nela. Antes de Ramsés II, Amenófis II (c. 1427 a 1401 a.C.) já embelezara a cidade mandando construir, por exemplo, uma das esfinges que adornava, juntamente com outras, a avenida que conduzia ao templo de Ptah. Feita de um único bloco de alabastro, mede quatro metros de altura por oito de largura e deve pesar cerca de 80 toneladas. Você consegue imaginar uma avenida ladeada por dezenas de estátuas com tal grandeza?

A necrópole menfita ocupava uma extensão de mais de 30 km de comprimento, na orla do deserto, na margem ocidental do Nilo, o que reflete a dimensão e a importância da cidade. Esse cemitério se espalhava por Dahshur, Saqqara, Abusir, Zawyet el-Aryan, Gizé e Abu Rawash. É preciso que se entenda, porém, que a localização da cidade, ou, pelo menos, de seu centro, não deve ter permanecido estável ao longo de toda a história do Egito. Zonas novas e prósperas ganhavam importância e outras a perdiam. Foi por isso, e pela busca de locais apropriados para novos projetos de pirâmides, que a necrópole se estendeu. Portanto, não devemos imaginar a cidade e todos os seus túmulos existindo concomitantemente em um único momento. As pirâmides reais — relata John Baines —, elementos mais notáveis da necrópole, davam, por vezes, o nome aos bairros da cidade adjacente que tinham crescido a partir das "cidades da pirâmide" originais de sacerdotes e funcionários da pirâmide. Um destes termos, o nome da pirâmide de Pepi I (c. 2289 a 2255 a.C.), em Saqqara, Mennufer, Menfe em copta, e Mênfis, na sua forma helenizada, foi adotado já na XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.) para designar toda a cidade.

Mênfis não sobreviveu ao declínio da civilização egípcia antiga no início da nossa era. Já havia antes se ressentido do ponto de vista econômico com o crescimento de Alexandria. Sua importância religiosa foi perdida quando Teodósio I (379-395 d.C.) decretou que o cristianismo passaria a ser a religião de todo o Império Romano. Finalmente, em 641 d.C., recebeu o golpe de misericórdia com a fundação da nova capital do Egito, el Fustat, no extremo sul do moderno Cairo. Os arqueólogos puseram a descoberto até agora apenas pequenas partes da cidade nas regiões de Mit Rahina e Saqqara.

1O estádio é uma antiga medida grega: equivalia a 185 metros e 25 centímetros.