Uma das múmias expostas no Museu Egípcio de Turim Foto © Roseli M. Comíssoli de Sá
Após a remoção dos órgãos, o corpo era lavado com vinho de palma e mirra. A seguir vinha uma das etapas mais importantes do processo de mumificação: a secagem do cadáver. Só eliminando ao máximo a umidade contida no organismo seria possível evitar que as bactérias proliferassem e destruíssem o corpo. Os sacerdotes colocavam o cadáver numa táboa inclinada e cobriam-no totalmente com natrão na forma de pó. Trata-se de um produto natural encontrado em abundância nas margens de lagos egípcios situados no deserto oeste do delta do Nilo. Ele é formado por uma mistura de carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, cloreto de sódio e sulfato de sódio. Os dois primeiros sais faziam a maioria do trabalho. Carbonato de sódio acelera o processo secante tirando água do corpo. Bicarbonato de sódio, quando exposto à umidade, eleva os níveis de pH, tornando o corpo inóspito para as bactérias que o decompõem.
Ao contrário da areia quente que secava os corpos em épocas mais primitivas, o natrão tinha a vantagem de absorver a umidade sem endurecer ou escurecer muito a pele. Aproximadamente 40 dias durava esse processo, o que era suficiente para secar completamente o corpo, que perdia até 80% de seu peso original e murchava. Um sacerdote permanecia sempre de guarda, dia e noite, porque o forte odor exalado atraía os comedores de carniça de deserto.
Terminado o prazo, o corpo era levado para Wabet, ou seja, a Casa da Purificação, onde era lavado com água do Nilo. O crânio era preenchido com linho encharcado em resina. As substâncias que haviam sido colocadas anteriormente como recheio no interior do corpo eram substituídas por natrão, linho encharcado em resinas e vários outros materiais, tais como serragem e mirra. As narinas eram tampadas e chumaços de tecido, ou até mesmo cebolas, eram inseridas debaixo das pálpebras. Em algumas épocas, para tornar a aparência do corpo mais natural, colocava-se também material por sob a pele dos braços, pernas e cabeça, enquanto que olhos artificiais eram inseridos nas órbitas. Feito isto, as incisões eram costuradas e toda a pele revestida com uma mistura de óleo de cedro, cera, natrão, cola e polvilhada com especiarias. Finalmente, o corpo era coberto com uma camada de resina quente para fechar os poros, mantendo a umidade do lado de fora, e estava pronto para receber as bandagens.
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