A OURIVESARIA




JÓIAS A ourivesaria egípcia nos legou peças de extrema delicadeza. Colares, pulseiras, anéis, diademas, broches e amuletos deslumbram até hoje aqueles que têm oportunidade de ver de perto essas raras peças expostas nos museus de todo o mundo. As mulheres egípcias guardavam tais preciosidades em estojos, de onde elas saíam nas ocasiões especiais para embelezar suas donas.

O trabalho em ouro e prata ocupava grande número de artífices, pois além de todos os adornos que o faraó e sua corte possuiam e usavam, não havia templo que não tivesse o seu tesouro. Nas oficinas começava-se por pesar o ouro e a prata antes destes metais serem enviados àqueles que os deviam trabalhar – nos conta Pierre Montet. A balança compunha-se de uma coluna onde se encavava a cabeça de Maât, a deusa Verdade, provida de um cutelo de metal e de um braço munido de uma agulha ao centro, do qual estavam suspensos, por uma corda tripla, dois pratos iguais. No momento da pesagem, bastava pousar o braço com todos os seus acessórios sobre o cutelo e verificar se os pratos se equilibravam. Os pesos tinham a forma de um boi sentado nas patas traseiras. O metal apresentava-se sob a forma de anéis. O operador imobilizava com as mãos as oscilações dos pratos e, contorcendo-se, controlava a posição do fiel que devia coincidir com a vertical. O escriba, que retirara do estojo a paleta e o cálamo, registrava os resultados na presença do chefe dos artífices do templo que se apoderava do ouro acabado de pesar e o remetia aos artífices.

Antes de mais nada o metal deveria ser fundido, já que seria necessário obter fios para as correntes; placas e fitas para as jóias mais delicadas; grandes placas para os vasos e taças; tubos para os braceletes e também lingotes. O ouro ou a prata eram colocados num cadinho que era levado ao fogo. Meia dúzia de homens, – diz Montet – apertados em círculo em volta da chaminé, atiçavam a chama, soprando por compridos tubos terminados por uma manga de cerâmica e dotados com um minúsculo orifício. Estes homens gracejavam e não tinham pouco mérito, porque tal trabalho era esgotante. Tal método, que se mantinha desde tempos remotos, foi aperfeiçoado no início do Império Novo. Os tubos eram adaptados a odres colocados no solo e munidos de uma corda que abria ou fechava, consoante se desejasse, uma janela aberta no lado oposto. O atiçador colocava-se sobre dois odres iguais. Agarrando uma corda em cada mão, ele fazia peso alternadamente sobre um ou sobre outro. Puxava a corda do odre abandonado a si mesmo e deixava a corda quando se apoiava sobre o odre, de maneira a expulsar o ar pelo tubo. Assim, dois homens faziam, com menos fadiga, o trabalho de seis. Quando o metal estava em fusão, dois homens, não temendo nem o calor nem o fumo, agarravam o cadinho com duas varas de metal. Quebrava-se um dos ângulos. O metal era deitado nas formas alinhadas numa mesa. Delas se retiravam cubos que eram confiados a operários que dispunham de uma grossa pedra que servia de bigorna e de uma pedra manejável que servia de martelo. Com esta simples utensilagem obtinham fios, barras ou placas. A martelagem acabava por endurecer o metal, ainda que fosse muito puro. Recozendo-o, devolviam-lhe a sua maleabilidade. O operário agarrava a placa com uma pinça e aproximava-a de uma forja que ele ativava com um sopradouro. Passavam-se os fios por uma fieira obtendo-se o calibre desejado. Estes processos muito simples davam mais ou menos todas as formas de que o ourives ia ter necessidade. Bastava apenas talhar e depois reunir todas as peças. O operário que queria fabricar uma taça de ouro ou de prata, sentava-se num tamborete, diante de um cepo solidamente cravado no solo e, mediante uma martelagem adequada dava à sua placa a forma desejada. Quando o trabalho de construção estava acabado era preciso começar a decoração. A gramática decorativa dos egípcios era de uma infinita riqueza. Tanto podiam revestir uma taça ou uma ânfora de motivos geométricos ou florais, enquadrando uma cena profana ou uma cena religiosa, ou contentar-se, tomados por um acesso de sobriedade, com uma curta inscrição hieroglífica gravada com perfeição sobre um vaso de forma muito pura. Após os retoques finais e uma última limpeza, a peça acabada era exposta numa prateleira que, no fim do dia, estava guarnecida com os mais variados objectos.



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