ARRASTÃO Os pântanos do Egito eram freqüentados pelos pescadores. Quase toda a população apreciava a pesca, pelo menos em determinadas ocasiões, até mesmo os próprios escribas que desdenhavam as demais ocupações. As moças encantavam-se com as habilidades no uso do arpão e os rapazes adestravam-se no seu manejo. Pescar era um passatempo de amadores, mas era também um ofício nas regiões mais pantanosas ao norte do país.

Com caules de papiro e cordas confeccionadas com as fibras dessa planta, eram fabricados barcos de uso indispensável para a pesca. Em pescarias mais longas preferia-se utilizar barcos de madeira providos de mastro. Cordas estendidas no interior da embarcação eram usadas para secar os peixes depois de limpos.

Havia muitas maneiras de pescar — nos conta Pierre Montet. O pescador solitário instalava-se com as suas provisões numa pequena barca e, quando encontrava um lugar tranqüilo, deixava flutuar a sua linha. Como um belo clarias mordesse o anzol, vemos o pescador puxar a linha com precaução e matar a sua presa com um golpe de maço. Nos charcos pouco profundos, punham-se redes simples, em forma de garrafa, ou até redes bi-compartimentadas. Os mugens, atraídos por uma isca, encontravam a entrada, afastavam os juncos, mas depois não podiam sair. Depressa a rede se transformava num verdadeiro viveiro. O pescador, seguro do sucesso, temia apenas o seu vizinho, que espreitava e que era muito capaz de chegar aos mesmos locais em primeiro lugar. Com a rede pequena era preciso ter paciência e uma grande certeza de mão. O pescador parava num sítio onde abundasse o peixe, mergulhava o aparelho e esperava. Quando os próprios peixes transformassem a redinha em domicílio, o pescador devia erguê-la de golpe e sem brusquidão, senão não levantaria mais do que uma rede vazia. A pesca à rede de arrasto exigia um dezena de homens, pelo menos duas barcas e uma imensa rede retangular guarnecida de bóias de um lado e de pesos de pedra do lado oposto. Estendia-se esta rede num lago e encurralavam-se os peixes. Depois, puxava-se docemente o aparelho e os peixes para a margem. A parte final da operação era um momento delicado, porque o synodonte, que era um peixe ágil e vigoroso, saltava fora da rede para regressar ao seu domínio. Era preciso que o pescador o agarrasse no salto. Contra o enorme latés, tão grande que a sua cauda varria o solo quando dois pescadores o levavam pendurado de um pau, o arpão era a melhor arma.


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