OS RITUAIS




SACERDOTE EXECUTANDO RITUAL A maioria dos sacerdotes tinha muito pouco contato com a estátua de culto da divindade, o ponto focal de qualquer templo, embora paramentá-la fosse a atividade mais importante do templo, executada pelos sacerdotes de categoria superior. O ritual seguido pela maioria dos templos estava baseado naquele adotado pelo templo do deus-Sol em Heliópolis desde tempos remotos. Nele a imagem de culto era defumada, lavada, untada, vestida e, finalmente, presenteada com uma refeição. Uma enorme variedade de alimentos, a qual incluia carne de gado, peixe, pato, pão, frutas e legumes, era ofertada aos deuses e ao espírito dos mortos. Depois que a divindade houvesse consumido a essência espiritual da comida, os restos materiais eram divididos entre os sacerdotes. Baseado em um papiro que atualmente de encontra no Museu de Berlim e nas esculturas existentes nos templos, o arqueólogo Alan W. Shorter nos descreve a liturgia do deus Amon-Rá em Karnak. Ele escreve:
Primeiro, o celebrante entra no santuário e acende uma chama em seu turíbulo. O turíbulo egípcio não era do tipo oscilante, consistindo numa comprida peça de metal em forma de braço, em cuja mão havia um pequeno recipiente de barro para o incenso. Recitando as palavras da liturgia, o celebrante avançava na direção do relicário contendo a imagem do deus e, ao concluir a purificação preliminar do santuário e de si próprio, passava a romper as cordas de papiro e o lacre de barro que protegiam as fechaduras do relicário. Após retirar as fechaduras, abria com violência as portas de madeira, contemplava o deus face a face e recitava:
Estão abertas as duas portas do céu! Estão descerradas as duas portas da terra! Geb vos saúda, dirigindo-se aos deuses que o assistem de seus assentos:

"Os céus se abriram, a companhia dos deuses resplandece!
Amon-Rá, Senhor de Karnak, seja louvado em seu grande assento!
O Grande Nove seja louvado em seus assentos!
A beleza deles é tua, ó Amon-Rá, Senhor de Karnak!"

Dominado pelo esplendor de Amon, — prossegue Alan Shorter — o celebrante se lançava ao chão e, de bruços, beijava-o diante do relicário. Erguendo-se de novo, entoava um hino de louvor e, então, ofertava à estátua uma essência de mel e a defumava com incenso. A parte preliminar da cerimônia estava concluída; agora, após tirar a estátua do relicário e depositá-la sobre um montinho de areia, o sacerdote dava início à parte mais importante da liturgia, o aviamento propriamente dito do deus. Primeiro, lavava a imagem com água dos vasos sagrados, exclamando:
Purificado, purificado está Amon-Rá, Senhor de Karnak! Receba de Hórus a água de seu olho; que seja dado seu olho, que lhe seja dada sua cabeça, que lhe sejam dados seus ossos e lhe seja firmada sua cabeça sobre seus ossos na presença de Geb!
O sumo sacerdote tornava a perfumar a imagem com incenso e, então, cobria-lhe a cabeça com uma touca branca e a enfeitava com vestes verdes e vermelhas, coroando-a com o seu diadema especial, colocando cetros em suas mãos, braceletes em seus braços e tornozeleiras em suas pernas. A seguir, a estátua era untada com ungüento e suas pálpebras pintadas, primeiro com cosméticos verdes e, logo a seguir, pretos. O celebrante recolocava então a estátua no relicário e dispunha uma farta provisão de alimentos e bebidas sobre uma mesa à sua frente, tornando a queimar incenso em seu turíbulo, provavelmente para que a essência espiritual do alimento fosse transferida ao deus pela fumaça. Encerrada a liturgia, as portas do relicário eram fechadas e trancadas, e o celebrante, após apagar as marcas de suas próprias pegadas no piso, deixava o santuário.

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