A Vindima
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O uso das uvas era largamente difundido no antigo Egito. Praticamente todos os jardins possuíam alguns pés de videiras plantados. Na região do Delta essa cultura era ainda mais desenvolvida, visando a produção de vinho. Os vários faraós de nome Ramsés, da XIX e XX dinastias (c. 1307 a 1070 a.C.), eram grandes consumidores de vinho porque eram originários de uma região vinhateira e muito desenvolveram a cultura da uva e o comécio de vinhos. Os vindimadores arrancavam os cachos de bagos azuis com as mãos, sem auxílio de qualquer instrumento. As uvas eram colocadas em cestos e os homens cantavam enquanto os carrevavam na cabeça até as dornas. Estas eram redondas e baixas e os egiptólogos não sabem de que material eram feitas. Supõe-se que não seriam de madeira, uma vez que os egípcios não sabiam fabricar tonéis. Acredita-se que fossem de pedra dura como granito ou xisto, as quais permitiriam obter dornas de fácil limpeza e estanques. São decoradas com baixos-relevos e, às vezes, estão colocadas sobre uma plataforma. Segundo nos conta Pierre Montet, de dois pontos diametralmente opostos partem duas colonelas ou duas varas forcadas, se o proprietário não era muito exigente em matéria de elegância, que suportam um barrote donde pendiam cinco ou seis cordas. Quando se trouxera uma quantidade satisfatória de uvas, os vindimadores subiam para a dorna e, agarrando-se às cordas, provavelmente porque o fundo não era plano, pisavam as uvas com energia. Em certos casos, músicos sentados sobre tapetes cantavam acompanhados por crótalos de madeira, animando os trabalhadores e marcando o ritmo certo da tarefa. Na falta de músicos, os próprios vinhateiros cantavam enquanto dançavam sobre as uvas. Duas ou três aberturas na dorna faziam o líquido escorrer para um tanque. Quando a pisadura dera tudo o que era possível,— continua a nos contar Montet — as uvas esmagadas eram colocadas num saco de matéria forte, munido com uma vara a cada extremo. Quatro homens mantinham o aparelho erguido sobre uma selha e, fazendo girar as varas em sentido inverso, torciam o saco. Este processo tinha muitos inconvenientes. Os operadores suportavam o peso do saco ao mesmo tempo que manejavam as varas. À menor deslocação, o vinho entornava-se. É por essa razão que se colocava um ajudante entre os quatro operadores para impedir estes deslocamentos ou para deslocar ao mesmo tempo a tina. No Império Novo, os vinhateiros utilizavam uma prensa composta de dois montantes solidamente plantados em terra e perfurados à mesma altura por dois buracos iguais onde se introduziam as extremidades do saco da vindima. Faziam-se passar as varas num cordão arranjado para esse efeito e bastava apertar. Toda a força dos operadores era utilmente empregada e nem uma gota de vinho se perdia. Das tinas o sumo era transferido para jarras de fundo chato onde fermentava. Finda a fermentação, era distribuído em jarras adequadas ao transporte: compridas, pontiagudas, munidas de duas orelhas e com um gargalo estreito, que se vedava com gesso. Os vasilhames eram transportados às costas ou pendurados numa vara e carregadaos por dois homens, no caso de serem muito pesados. Como acontecia em tudo, os escribas acompanhavam o trabalho. Contavam os cestos que chegavam nas dornas e escreviam nas jarras dados como o ano da fabricação do vinho, o nome do proprietário e dos vinhateiros e marcavam os mesmos dados em seus registros. Se ocorria de um proprietário vir pessoalmente vigiar o serviço, os trabalhadores logo improvisavam cânticos em seu louvor e invocavam a Cha, o gênio da vinha: Vem, nosso patrão, verás as tuas vinhas nas quais teu coração se alegra, enquanto que os vinhateiros pisam as uvas, na tua presença. Nas cepas, as uvas são abundantes. Muito sumo há nas uvas, mais do que em qualquer outro ano. Bebe, alegra-te, fazendo o que te agrada! As coisas acontecer-te-ão segundo os teus desejos! A Senhora de Imit aumentou as tuas vinhas porque deseja a tua felicidade. Sempre que tinham oportunidade os egípcios pediam favores aos deuses. Nas pinturas e baixos-relevos podemos ver, às vezes, ao lado das dornas, uma serpente pronta para o bote. Pode estar adornada com um disco solar entre os cornos, colocada num armário elegante, ou representada junto a um maciço de papiros. Perto dela vê-se uma pequena mesa carregada de pães, uma folha de alface, um ramo de lotus, tudo isso flanqueado por dois cálices. Trata-se de Renenutet deusa das colheitas, da qual dependiam também as adegas, os vestuários, as uvas e os eirados. A sua festa principal tinha lugar no início da estação da colheita. Alêm disso, os vinhateiros festejavam-na quando terminavam os trabalhos de lagar. |