CARTUCHO DE ESCORPIÃO

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CLAVA DE ESCORPIÃO Do final do período pré-dinástico emerge um rei semi-mítico conhecido pelos egiptólogos sob o nome de Escorpião. O que se sabe a respeito dele é muito pouco. Em escavações realizadas em 1897 e 1898 no templo da localidade de Nekhen, situada no Alto Egito, cidade que os gregos denominaram de Hieracômpolis, os arqueólogos encontraram pedaços de uma cabeça de clava de calcário, com 25 centímetros de altura. Desde os tempos mais primitivos que as clavas foram consideradas como símbolos do poder real e em todo o decorrer da história egípcia foram mostradas nos relevos como a arma empregada pelo faraó para esmagar os inimigos do Egito.

Na cena principal da decoração em relevo da peça, a qual vemos acima, aparentemente o rei Escorpião realiza um cerimonial utilizando uma enxada. Talvez ele esteja abrindo os diques de irrigação para dar início à inundação dos campos; ou talvez esteja cavando a primeira vala para a construção de um templo ou mesmo de uma cidade, iniciando assim um ritual de fundação, o que no Egito era uma prerrogativa do faraó. A cena que o rodeia é de júbilo, simbolizando, obviamente, a re-organização do país. Na frente de seu rosto aparece uma espécie de estrela ou roseta de pétalas múltiplas, a qual era usada naquela época para identificar os reis egípcios. Aparece também o desenho de um escorpião — e por isso lhe foi atribuído esse nome —, que na língua egípcia devia provavelmente ser grafado como Srqt. A clava mostra-o usando a Coroa Branca do Alto Egito e vestido com toda a roupagem ritual que inclui a calda de touro, um dos sinais de poder, que pende da parte posterior de seu cinto. O fato do rei usar apenas a coroa do sul induz a pensar que o Delta ainda não estava submetido à sua autoridade e que o domínio desse monarca devia estender-se apenas até Tura, onde foi encontrado um fragmento de cerâmica com o seu nome.

CLAVA DE ESCORPIÃO
De acordo com a convenção da arte egípcia, a imagem do rei — ser talvez quase divino —, era desenhada em tamanho bem maior do que as dos demais figurantes da cena. Estandartes com símbolos que identificam os nomos nos quais o Egito estava dividido podem ser vistos no registro superior. Muitos de tais símbolos permaneceram durante toda a história egípcia. Dois deles representam animais do deus Seth, o que prova que naquela recuada época os seguidores dessa divindade, que posteriormente foi execrada, davam apoio ao clã real. Outros representam falcões, um chacal, o deus Min e, provavelmente, as montanhas. De tais estandartes pendem pássaros suspensos pelo pescoço. Nos hieróglifos essa simbologia tem sido interpretada como a representação do povo do Egito e o seu fado parece indicar que foram conquistados pelo rei Escorpião. Alguns estudiosos, entretanto, têm entendido que aqueles símbolos só mais tarde passaram a representar a população egípcia, ao passo que, inicialmente, na época pré-dinástica, eles se referiam aos estrangeiros. Assim, a clava do rei Escorpião parece representar que o governante havia expulsado com sucesso os estrangeiros da região ocidental do Delta. Também aparecem na peça homens na pacífica ocupação agrícola e, portanto, em síntese, a clava registra vitória, reorganização e paz.

Em Abido já foram localizados túmulos de vários reis da I dinastia e até mesmo da dinastia precedente, na qual esse rei Escorpião se encaixaria. Entretanto, lá ainda não foi encontrada uma evidência conclusiva da sua existência. Os arqueólogos não têm certeza nem mesmo se esse Escorpião realmente existiu. Talvez esse nome fosse apenas um título, ou talvez o sinal do escorpião não signifique o nome de uma pessoa.

Hipóteses não faltam. A origem dos faraós da I dinastia foi a cidade de Tínis, no Alto Egito, mas parece que Escorpião era originário da casa real de Hieracômpolis. De Tínis veio Narmer, seu sucessor. Talvez as duas cidades tenham sido centros de reinados rivais e, ao terminar o reinado de Escorpião, Tínis tenha assumido papel preponderante no direção do país. Talvez Narmer tenha sido o primeiro governante a ter reinado no Egito inteiro sem oposição alguma. Com base na aparente relação de Escorpião com Hieracômpolis e nas similaridades estilísticas entre sua clava e a paleta de Narmer, acredita-se que os dois reis podem ter sido praticamente contemporâneos.

O que a arqueologia atesta com segurança é que a unificação definitiva do Egito resultou de uma conquista que progrediu no sentido sul-norte. É então possível que determinado rei ou chefe de uma confederação tribal, de nome Escorpião, tenha reunido sob seu poder o território que se estende de Hieracômpolis, ao sul, até Tura, ao norte, de onde mais tarde surgiria a cidade de Mênfis, sem chegar a tomar o Delta. O historiador Jean Vercoutter confirma: temos documentos que se referem ao período imediatamente anterior à unificação do país. Em Hieracômpolis, que, supõe-se, foi a capital dos reis do Sul dessa época, encontraram-se monumentos que representam um rei chamado Escorpião lutando contra os egípcios do Norte. A autoridade de Escorpião, ao que parece, se estendeu até o norte de Mênfis, e o verdadeiro unificador do país presume-se tenha sido seu sucessor, Narmer.

Veja também Túmulo do Rei Escorpião (?)