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O SÍTIO DE ABIDO Localizado no Alto Egito, a 10 km de distância do Nilo, Abido teve importante papel na vida religiosa dos antigos egípcios. Era chamada de Abedju. É uma das cidades mais antigas e tornou-se a capital do oitavo nomo do Alto Egito. Estima-se que sua área abrangia oito quilômetros quadrados. É sabido que reis da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.) e os últimos dois da II dinastia (c. 2770 a 2649 a.C.), foram enterrados nessa localidade. A necrópole modernamente tem o nome de Umm El Qa´ab que significa "Mãe dos Potes", pois toda a área está literalmente coberta por fragmentos de potes quebrados das oferendas feitas na antiguidade. Suas tumbas e recintos funerários podem ter sido o primeiro passo da antiga jornada arquitetônica que desembocaria nas Grandes Pirâmides construidas séculos depois. Em tempos posteriores, a localidade se tornaria um centro de culto a Osíris. Um templo a ele dedicado foi erguido e anualmente havia uma grande procissão na qual uma imagem do deus era levada dali até uma tumba que os egípcios acreditavam ser a dele, mas que na verdade pertenceu ao faraó Djer, e depois retornava, sempre com grande fanfarra. Existe uma área, que os egípcios chamavam de O Terraço do Grande Deus, pela qual se estende uma série de capelas privadas e reais construídas no limiar da rota da procissão.

As tumbas da I dinastia dispunham de amplas instalações de armazenamento de provisões para o além-túmulo com numerosas câmaras múltiplas, às vezes dentro ou ao redor da câmara funerária, às vezes separadas. Outra característica era a de que havia túmulos subsidiários, às vezes às centenas, de pessoas que podem ter sido sacrificadas. Ao norte das tumbas reais estão os cemitérios B e U que abrigam tumbas anteriores à I dinastia. Esse período é chamado de "pré-dinástico" pelos egiptólogos. Tem sido afirmado que alguns dos túmulos pre-dinásticas de Abido são os dos "proto-reis" que controlavam todo ou uma grande parte do Egito. Na realidade, tendo em vista que não se sabe ao certo como e quando o antigo Egito foi unificado, é difícil determinar qual destas tumbas era para reis e quais para membros da elite da sociedade.

Uma de tais túmulos que parece ser de um soberano é denominada de "Uj" pelos pesquisadores. Escavadores encontraram evidências de um santuário de madeira acima da câmara funerária e um pequeno cetro de marfim, que poderia ter sido um símbolo da realeza. Objetos com inscrições no local mostram exemplos primitivos da escrita egípcia, ainda que não haja consenso de como devem ser lidos. Cercando a câmara funerária existia um complexo de armazenamento onde caberiam centenas de potes cheios de comida e bebida: uma boa provisão para a vida após a morte. Três das câmaras haviam abrigado jarros de vinho que imitavam a cerâmica típica do sul de Canaã ou da Palestina, num total equivalente a cerca de 4500 litros. Embora muitas descobertas já tenham sido feitas no local, a maior parte permanece escondida por sob a areia, um fato reconhecido no nome árabe da cidade moderna: Arabah el-Madfunah, que significa o Arabah enterrado.

Aproximadamente 1,5 km ao norte das tumbas reais existe uma série enigmática de recintos de adobe dedicados a reis, e a uma rainha em determinado caso, os quais se acredita tenham sido enterrados em Abido. Orientado de noroeste para sudeste, cada recinto é rodeado por paredes volumosas e contém uma capela. Para que eram usados tais monumentos fechados é um mistério. Oito dos recintos pertencem a soberanos da I dinastia, três dos quais ao rei Aha e um à rainha Merneith. Outros dois pertencem a reis posteriores da II dinastia. Assim como junto às tumbas, os recintos da I dinastia também contém sepulcros de pessoas que podem ter sido sacrificadas. Aí, também, às vezes às centenas. O recinto maior pertence a Khasekhem, rei da II dinastia, e nesse caso não houve sacrifícios humanos. A estrutura tem cerca de 123 por 64 metros e suas paredes, decoradas na forma de uma fachada de palácio em todos os quatro lados, tinham até cinco metros de espessura e alcançavam até 20 metros de altura. A capela do soberano, situada dentro do recinto, apresenta em sua porção sudoeste um complexo labiríntico de câmaras e existe um cômodo pequeno no qual foram achados rastros de incenso queimado e de libações. Há provavelmente mais recintos a serem descobertos.

A nordeste do recinto de Khasekhem, numa junção entre o recinto do faraó Djer e uma mastaba, existe uma série de 12 covas para barcos. Cada uma delas contém uma embarcação de madeira de tamanho natural que teria servido a um propósito ritual. Alguns deles têm uma pedra de formato irregular que pode ter funcionado como uma âncora. Os barcos teriam sido enterrados ao mesmo tempo, mas não se sabe qual o soberano que os construiu.

O TEMPLO DE OSÍRIS A partir do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) Abido se tornou um centro de culto para Osíris. Foram construídos vários templos para ele perto do Terraço do Grande Deus. Foi difícil descobrir a localização exata do templo cuja foto vemos ao lado. Entre 2002 e 2004 foram escavadas duas camadas arquitetônicas de edifícios que datam dos reinados de Nectanebo I (380 a 362 a.C.) e Nectanebo II (360 a 343 a.C.) e da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.). O teto do templo de Nectanebo parece ter sido enfeitado com estrelas esculpidas em relevo. Em 2009 se acreditava que talvez templos anteriores pudessem ser encontrados abaixo destas camadas. Foto © BasPhoto/Shutterstock.

A última pirâmide real construída por um faraó egípcio (não núbio) foi erguida em Abido por Amósis (c. 1550 a 1525 a.C.), fundador da XVIII dinastia. Rei guerreiro, ele ficou conhecido por expulsar os Hicsos do Egito. Do topo da pirâmide podem ser avistados os campos cultivados que margeiam o Nilo, bem como as escarpas de pedra calcária, um quilômetro adiante, que marcam o começo do planalto do deserto de Saara.

TEMPLO DE SETI I Na realidade Abido tem muitos monumentos e o Templo de Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.), conhecido pelos antigos egípcios como a casa de milhões de anos, é um dos que estão melhor preservados. Seus dois primeiros pilones foram destruídos. A entrada agora se dá por doze pilares que originalmente formaram a parte de trás do segundo pátio. Cada um dos pilares apresenta relevos de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) sendo abraçado por diferentes divindades. O edifício principal do templo, construído de pedra calcária, mede 56 por 157 metros e fica situado dentro de uma área cercada por tijolos. Foto © Jon Bodsworth.

UM DOS RELEVOS O templo sobe em terraços ao longo do declive do deserto. No terraço inferior há um lago artificial com um caís atrás do qual se ergue o primeiro pilone que apresenta pilares de estátuas reais na sua parte traseira. Seguem-se dois salões hipóstilos. As cenas nas paredes do primeiro são do reinado de Ramsés II. Não são de tão boa qualidade quanto aquelas do pai dele, Seti I, que enfeitam o segundo salão logo a seguir. Além disso, são cenas cortadas na parede enquanto que as de Seti I são em relevo saliente e as que melhor se conservaram. Em muitos dos relevos que estão na parede traseira deste segundo salão as cores originais sobreviveram, como neste em que aparecem Seti I e Hátor. Foto © Jon Bodsworth.







AS CAPELAS Ultrapassados os salões o visitante fica diante da entrada de sete santuários de botes, como vemos na foto ao lado. O primeiro é dedicado ao rei Seti I e os outros aos deuses Ptah, Rá-Harakhti, Amon-Rá, Osíris, Isis e Hórus. Estima-se que cada capela tivesse 12,6 m², com um teto arqueado de 5,8 m acima do chão. Em cada uma delas ficava abrigada uma liteira em formato de barco que era usada para transpotar a imagem da respectiva divindade durante suas procissões rituais. Um salão de Osíris fica situado além dos sete santuários e nele podemos penetrar através da capela daquela divindade. Foto © Jon Bodsworth.

A LISTA DOS FARAÓS Em uma parede do templo está gravada uma lista com 76 nomes de reis do antigo Egito. São três fileiras de 38 cartuchos em cada fileira. As duas fileiras superiores contêm nomes dos reis, enquanto que a terceira apenas repete os nomes de Seti I. Além de fornecer a ordem dos reis do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.), é a única fonte até o presente dos nomes de muitos dos faraós da VII e VIII dinastias (c. 2150 a 2134 a.C.). A relação omite os nomes de muitos faraós antecedentes que eram, aparentemente, considerados ilegítimos, tais como Akhenaton, Hatshepsut, Semenkhkare, Tutankhamon e Ay. À frente da tabela aparecem Seti I e Ramsés II fazendo oferendas a seus ancestrais. Foto © Jon Bodsworth.



CAPELA NO TEMPLO DE RAMSÉS II Nas adjacências encontramos o templo de Ramsés II que era muito menor e tinha uma planta mais simples. O pilone frontal original desapareceu e pouco mais de dois metros das paredes permanecem. Ao contrário do que acontece com a construção de Seti I, nesta nada restou do telhado. Em seu exterior o templo apresentava uma série de cenas louvando as realizações do faraó, das quais as partes inferiores permanecem. Por fora o templo estava decorado com cenas da Batalha de Kadesh. As paredes do segundo pátio mostram sacerdotes trazendo oferendas: gado, antílopes, pássaros, comida. Na extremidade final do templo há três capelas com cenas dedicadas a várias divindades. Há também uma capela para Osíris que apresenta nichos para estátuas. Havia uma lista de faraós, semelhante à de Seti I, mas os fragmentos foram removidos pelo cônsul francês e vendidos ao Museu Britânico. Na foto acima a entrada de uma pequena capela. Foto © Jon Bodsworth.

O OSIREION Uma das estruturas mais enigmáticas de Abido, conhecida como Osireion, fica situada atrás do templo. O salão principal, como permanece hoje, tem aspecto rochoso megalítico, ao qual se chega por uma passagem de 128 metros de comprimento e pode ter servido de tumba para "Osíris-Seti", uma representação de Seti como Osíris. A estrutura do recinto é fantástica e consiste numa ilha, cercada por um profundo fosso, na qual descansou o agora perdido sarcófago de Osíris-Seti. O teto da sala ficava 7 m acima e estava apoiado em duas fileiras de cinco pilares de granito, pesando 55 toneladas cada uma. Muitas das paredes do recinto estão enfeitadas com cenas do Livro dos Mortos. Foram esculpidas após a morte de Seti I por seu neto Merneptah (c. 1224 a 1214 a.C.) e algumas delas raramente são encontradas em outros locais. Por outro lado, algumas das decorações nunca foram terminadas e outras foram somente pintadas ao invés de escavadas. Para ler sobre mais descobertas em Abido, clique aqui. Na foto acima, cujo copyright é de Jon Bodsworth, temos o Osireion visto da posição nordeste.