Descobertas Arqueológicas

BARCOS EM ABIDO




UM DOS BARCOS ENCONTRADOS Talvez os mais antigos barcos construídos no mundo com pranchas de madeira tenham sido encontrados nas areias do deserto em Abido, a uma distância de 13 quilômetros do Nilo e a 480 quilômetros ao sul do Cairo. As embarcações são novas e notáveis evidências da riqueza, do poderio e da perícia tecnológica dos primeiros tempos da civilização egípcia. Foram localizados 14 grandes barcos, datados de 3000 a.C. e de comprimentos variando entre 18 e 24 metros, dos quais um deles pode ser visto na foto ao lado. Antes da descoberta destas embarcações pouco se sabia sobre os antigos barcos egípcios anteriores à época de Kéops. Os barcos são funcionais e estavam destinados ao uso de um rei na vida após a morte. Mas não há evidências de que eles tivessem sido usados. Como disse, com graça, um arqueólogo: - Você daria um barco usado para um rei? Estas embarcações, tanto em significado quanto em função, são antecessoras diretas do famoso barco recuperado próximo da grande pirâmide de Kéops, em Gizé, e o antecedem, talvez, em cerca de 300 anos.

Os arqueólogos sabiam, desde 1991, que havia pelo menos uma dúzia de barcos enterrados nas proximidades de um volumoso muro que circundava um recinto funerário do faraó Khasekhemwy, último rei da II dinastia (c. 2770 a 2649 a.C.). Entretanto, durante escavações realizadas entre maio e junho de 2000, descobriu-se que os barcos foram colocados em suas covas muitos anos antes da edificação daquele muro e que, provavelmente, estavam destinados ao uso póstumo de um soberano muito mais antigo, talvez mesmo Aha, o primeiro faraó da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). As covas foram construídas com tijolos e as embarcações estavam cheias de alvenaria. Além disso, cada cova em si estava moldada de maneira a ter a forma do barco que continha. As cavidades estavam tampadas e caiadas, dando a impressão de uma grande frota branca, e uma grande pedra arredondada havia sido colocada perto da proa ou popa de vários barcos, sugerindo âncoras. Os posicionamentos destas pedras pareciam deliberados e não aleatórios.

Os especialistas acreditam que os barcos não eram simples maquetes, mas meios viáveis de transporte, que poderiam acomodar até 30 remadores. O modo de construção é sem igual entre os barcos egípcios antigos que sobreviveram. Ao que parece, foram construídos de fora para dentro, em contraste com a técnica de construção naval posterior, que se iniciava com uma armação interna. Com fundo chato, aproximadamente 23 metros de comprimento e dois a três metros de largura no ponto mais largo, eles têm só 60 centímetros de profundidade, com proas e popas mais estreitas. O casco apresenta pranchas de madeira grossas, unidas por cordas que passam através de entalhes. As junções entre as pranchas estavam preenchidas com feixes de canas, para evitar a entrada da água, enquanto que canas adicionais atapetavam o chão do barco. Resíduos de pigmento amarelo indicam que estes barcos provavelmente foram pintados. Foi necessário muita habilidade para construir barcos como estes. Era preciso que existissem trabalhadores peritos em trabalhar a madeira, normalmente usando ferramentas de pedra. A tarefa exigia planejamento e disciplina e um alto nível de organização da sociedade, o que certamente os egípcios tiveram há 5000 anos atrás.

Estas embarcações de Abido parecem ser protótipo dos barcos faraônicos que aparecem, representando a realidade ou dentro de um contexto simbólico, em cenas funerárias muito posteriores da história egípcia. Os egípcios acreditavam que o rei ao morrer unia-se ao deus-Sol, Rá, velejando em seu barco nas águas do mundo subterrâneo. O mais famoso e elaborado destes barcos, dotado de proa e popa esculpidas e uma cobertura, é o que pertenceu ao faraó Kéops (c. 2551 a 2528 a.C.). Nenhum barco intacto de construção anterior havia sido encontrado antes.

Mais de 30 jarros cerâmicos de fundo pontudo, com cerca de 30 centímetros de altura e de formato usado tipicamente para transportar cerveja, foram achados próximo a uma das covas dos barcos. Nas rolhas dos jarros existem impressões de selo, porém muito deterioradas para serem legíveis.




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