CARTUCHO DE KHASEKHEM

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FARAÓ KHASEKHEM Como último faraó da II dinastia (c.2770 a 2649 a.C.) surgem dois nomes: Khasekhem e Khasekhemwy. Entretanto, os estudiosos acreditam tratar-se da mesma pessoa. O primeiro nome seria a versão inicial do segundo, o qual o faraó adotou quando reunificou o Egito ao final de guerras religiosas que dividiram o país. Tinha havido a rutura entre as duas terras até que ele dominou novamente o Baixo Egito. Depois do ano do golpe de entrada no Baixo Egito — nome que ele deu a um dos seus anos de reinado — ele modificou, em sinal do novo apaziguamento, o seu nome que significava O Poder Surge para Os Dois Poderes Surgem. E ainda, acrescentou à sua titulatura a frase Os Dois Senhores Estão Contentes, isto é, Hórus e Seth estão integrados em harmonia na pessoa do rei. Originário do sul do Egito, Khasekhem era, provavelmente, descendente de um faraó cujo trono fora usurpado por um rei apoiado pelos sacerdotes de Heliópolis.

Duas estátuas suas foram encontradas em Nekhen, cidade que os gregos chamaram de Hieracômpolis, cujo deus principal era um falcão com duas grandes plumas na cabeça, desde muito cedo assimilado a Hórus. Aliás, pelo que se conhece até hoje, esse soberano foi o mais antigo rei egípcio a mandar moldar estátuas em pedra de sua própria pessoa. Na foto acima, uma delas, esculpida em pedra calcária, representando o faraó sentado em um trono, usando a coroa do Alto Egito e a roupagem geralmente associada com o Festival Heb-Sed. Ao redor da base há uma fileira de corpos humanos retorcidos representando os inimigos mortos. Na frente do pedestal está escrito Inimigos do Norte 47.209. Os estudiosos sugeriram que tais inimigos fossem Líbios que teriam invadido o delta do Nilo; mas não está descartada a possibilidade de uma revolta interna no Baixo Egito. Outro registro fala da derrota do "maldito", termo que era usualmente aplicado a um usurpador ou a um rebelde vencido cujo nome havia sido apagado dos anais.

SELO DOS VASOS Outra evidência da rebelião do Norte aparece em três vasos de pedra que apresentam a mesma inscrição: O ano do combate ao inimigo do Norte na cidade de Nekheb. A deusa Nekhbet, sob a forma de abutre, segura um sinete em forma de círculo em cujo interior vê-se a palavra besh, ou seja, rebeldes. Com a outra garra, segura o emblema do Egito unificado diante do nome do faraó Khasekhem. A localidade de Nekheb, atualmente chamada el-Kab, fica na margem leste do Nilo, em frente de Nekhen, a qual os gregos chamaram de Hieracômpolis, onde Khasekhem estabeleceu a capital do país. Portanto, ao que parece, ali foi travada uma batalha dramática entre os habitantes do Alto e do Baixo Egito.

É importante notar — ressalta o egiptólogo W. B. Emery — que em suas estátuas o rei aparece usando apenas a Coroa Branca do Alto Egito e nos vasos de pedra o falcão sobre seu nome também usa a Coroa Branca. A impressão que se tem, por estas evidências admitidamente limitadas, é que Khasekhem era um governante da família Tinita do Alto Egito que restaurou a unidade do vale do Nilo após as guerras religiosas entre os seguidores de Hórus e Seth, os quais haviam provavelmente dividido o país desde o reinado de Peribsen.

Ao final dos embates, esse grande vencedor parece ter desposado uma princesa da linhagem dos vencidos, chamada Nemathap, a qual, futuramente, viria a ser venerada como ancestral dos reis da III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.). É provável que o casal tenha gerado o faraó Djoser (c.2630 a 2611 a.C.). Khasekhem pacificou o Egito e restabeleceu a união territorial. Reafirmou o sentimento nacionalista e restabeleceu o culto a Hórus, junto com o de Seth que havia sido propagado por Peribsen durante a época de crise. Após a unificação, o cartucho do faraó aparece com o falcão e o animal do deus Seth sobre ele, uma indicação adicional de que alguma forma de unidade em termos igualitários fora alcançada. Esse rei foi o único do Egito antigo que apresentou os deuses Hórus e Seth juntos em seu cartucho. Alguns egiptólogos acreditam que isso teria sido uma tentativa para unificar as duas facções rivais. Entretanto, após a morte do faraó Seth foi retirado permanentemente de seu cartucho.

Para marcar sua vitória, erigiu em sua cidade ancestral de Nekhen um templo no qual a grande porta de entrada era feita do belo granito rosa proveniente da primeira catarata do Nilo. Nesta época os egípcios haviam aprendido a construir em pedra e já manifestavam uma certa habilidade na arte de manipular grandes blocos de alvenaria, arte que logo elevaram a um alto grau de perfeição.

TUMBA DE KHASEKHEM Também construiu um túmulo em Abido, a última tumba real erguida nesta necrópole conhecida como Umm el-Qaab. Trata-se de uma obra fantástica e sem comparação com qualquer outra da mesma área. Dela restou apenas a parte subterrânea. Mede 69 metros de comprimento e sua largura varia entre 10 e 17 metros, com paredes de dois metros de altura. É formado por três partes: ao norte existe uma porta que leva a três fileiras de 33 armazéns destinados a oferendas e equipamentos funerários; a seguir temos uma câmara funerária em pedra calcária, flanqueada por quatro cômodos de cada lado e, finalmente, mais 10 armazéns, cinco de cada lado de um corredor que leva para a porta sul, a qual é ladeada por mais quatro cômodos.

VASO DE KHASEKHEM As escavações realizadas nessa tumba revelaram fragmentos de insígnias reais, inclusive o cetro em ouro, sardónica e cobre; braceletes de ouro e outras jóias; soberbos vasos e jarros em pedra ou cerâmica, contendo grãos ou frutas; estojos, cestas, panelas e caldeirões; ferramentas feitas de pederneira ou de cobre e, coisa curiosa, uma grande quantidade de alfinetes e de agulhas de cobre. Também havia objetos pequenos, vítreos, contas de cornalina, modelos de ferramentas e uma quantidade grande de selos, bem como vários pequenos potes de pedra de grande beleza com tampas douradas, como este que vemos acima. Entre os selos, vários com o nome de Djoser, que foi o responsável pelos ritos funerários e que deve ter sido filho de Khasekhem, ou seu genro. Tais objetos, bem como as estátuas mencionadas, atestam a arte maravilhosa dos artesãos e dos artistas daquele tempo. Torna-se evidente que a grande época da arte egípcia já havia começado.

SHUNET EL-ZEBIB Outra estrutura foi localizada no deserto, cerca de um quilômetro da tumba. Conhecida como Shunet el-Zebib, ou seja, o depósito das flechas, era retangular e enorme medindo 123 x 64 metros. As paredes de adobe da estrutura, decoradas na forma de uma fachada de palácio, tinham até cinco metros de espessura e alcançavam até 20 metros de altura. Inacreditavelmente, fragmentos destas paredes sobreviveram durante quase 5000 anos. Alguns egiptólogos acreditam que o complexo de edifícios dentro deste cerco pode ter exercido funções semelhantes às de um templo mortuário. Na realidade, o muro tem muito em comum com o cerco da Pirâmide de Degraus de Djoser em Saqqara. Além de ter igualmente paredes internas formando nichos, foi encontrado dentro do recinto uma grande plataforma de areia e pedregulho, aproximadamente quadrada, coberta com tijolos de lama. Localizada dentro da área em uma posição semelhante à da Pirâmide de Degraus no complexo de Djoser, esta plataforma pode ter sido a precursora das pirâmides de degraus. Seja como for, as estruturas de Khasekhem são vistas como uma fase evolutiva importante dos antigos complexos funerários egípcios. Ressalte-se, ainda, que as mais antigas evidências que comprovam o contato de um rei egípcio com a cidade de Biblos, na Fenícia, são da época deste faraó.

NomeKhasekhem(wy)
Avós---
Pai---
Mãe---
EsposaNemathap
FilhoDjoser
FilhasHétephernebty e Initkaes
Pirâmides construídas---
TúmuloTumba V de Umm el-Qaab, em Abido
MúmiaNão foi encontrada