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Sendo o faraó um deus Hórus vivo sobre a terra, desde o surgimento das primeiras fontes escritas que se aplica justamente esse nome ao rei — Hórus. Como o nome da divindade era derivada da palavra Hor, que significa falcão, o termo equipara o rei a um deus original do céu, o deus falcão, o qual outrora navegava na barca solar sobre a abóbada celeste. A ligação da divindade com o soberano é atestada desde o princípio da história egípcia. A forma sob a qual é representada essa estreita conexão é bem característica. Ela se expressa sobretudo no chamado nome de Hórus do rei.

SEREKH DE WADJ Até a III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.), o nome principal do rei — nome de Hórus — era escrito em um quadro retangular chamado de serekh, como esse que se vê ao lado pertencente ao faraó Wadj, o rei serpente, da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). A parte inferior do quadro continha um desenho em forma de fachada de palácio. Na parte superior vinha o nome do rei e o conjunto era encimado pela figura de um falcão — o deus Hórus. Assim o rei tornava-se o substituto terrestre dessa divindade do universo e poderíamos denominá-lo de Hórus do palácio. No caso de Peribsen, da II dinastia (c. 2770 a 2649 a.C.), o animal de Seth substituia o falcão, enquanto que o serekh de Khasekhem era encimado tanto pelo falcão quanto pelo animal de Seth.

Ao lado do nome de Hórus, a mais antiga dentre todas as designações reais, surgia, às vezes, um segundo nome, que também podia ser usado de forma independente. Tal nome era introduzido por um ou por ambos os títulos abaixo, sendo que o segundo deles refere-se às deusas Nekhbet (abutre), protetora do Alto Egito, e Wadjit (serpente), protetora do Baixo Egito e remonta à época proto-histórica.

HIERO REI DO ALTO E DO BAIXO EGITORei do Alto
e do Baixo Egito
HIERO DUAS DAMASAs Duas
Damas

A partir do Império Antigo, ou seja, da IV dinastia (c. 2575 a 2465 a.C.), o faraó possuia normalmente cinco nomes:
  • o nome de Hórus;
  • o nome das Duas Damas;
  • o nome de Hórus Dourado (de origem incerta);
  • o prenome (precedido pelo título de Rei do Alto e do Baixo Egito) e
  • o nome (precedido pelo título de Filho de ).
HIERO FILHO DE RÁFilho
de Rá

O nome de Hórus, que nos tempos primitivos era o mais importante de todos, foi perdendo importância com o passar dos séculos.

Com o nome das Duas Damas o rei incorporava em si mesmo as duas deusas das duas partes do país.

As palavras Hórus Dourado, formadas pela justaposição dos sinais hieroglíficos do falcão e do ouro, parecem traduzir uma antiga identificação do falcão Hórus com o sol, simbolizado pelo ouro.

O prenome era recebido por ocasião da coroação e era por ele que o faraó era mais comumente chamado em sua época. Os reis cujo nome próprio não continha a palavra Rá, adotaram, a partir da V dinastia (c. 2465 a 2323 a.C.), um nome de trono ou nome de Rá. Esse nome vinha precedido do título de Rei do Alto e do Baixo Egito, literalmente Aquele que pertence ao junco e à abelha, uma clara indicação da pretensão do monarca de reinar sobre as duas metades do país. Com frequência seguia-se a esse um outro título que expressava a mesma idéia: Senhor das Duas Terras.

O nome, precedido pelo título de Filho de Rá, foi usado pela primeira vez por reis da V dinastia que eram especialmente devotados ao culto de Rá, o deus solar, título que carregavam na qualidade de representantes da antiga cidade do Sol, Heliópolis e é, geralmente, o nome pessoal que o rei levava desde seu nascimento.

Prenome (nome de trono) e nome (nome de nascimento) eram normalmente incluídos dentro de ovais chamados de cartuchos, que representavam laços de corda com as extremidades atadas. Envolvendo seu nome dessa maneira, o faraó provavelmente desejava comunicar pictóricamente que ele era o governante de tudo o que fosse circundado pelo Sol.

Frequentemente eram acrescentados desejos piedosos ao nome ou título do rei, como, por exemplo, que viva muitos anos, próspero e com boa saúde.

Como exemplo, veja abaixo o conjunto completo de títulos do faraó Tutmósis IV (c. 1401 a 1391 a.C.), da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.):

HIERO HÓRUS
Hórus:
HIERO TOURO PODEROSO
touro poderoso, perfeito de
aparições gloriosas;
HIERO DUAS DAMAS
As Duas Damas:
HIERO A REALEZA
a realeza permanece como a de Aton
(o deus-Sol na idade avançada);
HIERO HÓRUS DOURADO
Hórus
Dourado:
HIERO BRAÇO FORTE
de braço forte, opressor dos Nove Arcos
(inimigos tradicionais);
HIERO REI DO ALTO E DO BAIXO EGITO
Rei do Alto
e do Baixo Egito:
HIERO MENKHEPRURE
Menkheprure
(Rá é duradouro
nas suas manifestações);
HIERO FILHO DE RÁ
Filho
de Rá:
HIERO TUTMÓSIS IV
Tutmósis IV, o de aparição magnífica;
querido de Amon-Rá,
doador (ou dádiva) de vida como Rá.

Por sua vez, a titulatura completa de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) era a seguinte: Hórus, Touro vitorioso, eleito de Maat — As Duas Damas, aquele que protege o Egito e subjuga os países estrangeiros — Hórus Dourado, rico em anos, grande em vitórias — Rei do Alto e do Baixo Egito e Senhor dos dois países, Rá é poderoso em Maat, eleito de Rá — Filho de Rá, infante de Rá (Ramsés).

Do final da XVIII dinastia em diante epítetos adicionais foram regularmente introduzidos nos cartuchos. Nas épocas nas quais o direito ao trono de todo o Egito era disputado, os faraós às vezes evitavam o título de Rei do Alto e do Baixo Egito e usavam o título de O Bom Deus.

HIERO O BOM DEUSO Bom
Deus

É na Bíblia que encontramos a tradução para faraó da palavra egípcia per-aâ, grafada assimHIERO PER-AÂem hieróglifos. Esse termo significa, aproximadamente, Casa Grande, e na origem era o nome que se dava ao palácio real e que foi estendido ao seu ocupante, mas isso só ocorreu no final da XVIII dinastia. Algo parecido ocorre quando dizemos Palácio do Planalto para nos referirmos ao Presidente da República. Essa palavra, entretanto, não aparece nas inscrições egípcias dos primeiros tempos e o título de faraó não se tornou jamais um elemento da titulatura oficial do rei, mas atualmente é empregada para todos os períodos da história do Egito.

Os nomes dentro de cartuchos que aparecem neste site são aqueles pelos quais os faraós são normalmente identificados. Como muitas vezes a pronúncia dos nomes é desconhecida, convencionou-se usar, nesses casos, as formas gregas retiradas da história de Manetho (século III a.C.).