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MÚMIA DE RAMSÉS II Em 1980, por ordem do então presidente egípcio Anuar Sadat, todas as mú-mias que se encontravam expostas para visitação pública deixaram de ser exibidas. Ele achava que a exibição dos restos mortais atentava contra a dignidade dos monarcas do Nilo. Sadat foi assassinado em 1981, mas a proibição continuou até 1º de março de 1994 quando 11 múmias famosas foram novamente expostas ao público. Nesse entretempo foram devidamente restauradas e, as que estavam nuas como esta do faraó Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), envoltas em lençóis. Quando a múmia deste faraó foi restaurada, o microscópio eletrônico revelou que as faixas de linho que envolviam o cadáver haviam estado em contato com flores e vegetais diversos durante os funerais. Estudando-se o pólen das flores concluiu-se que o enterro aconteceu na primavera. Foram encontrados vestígios de tabaco, vegetal que até então desconhecia-se existir no Egito faraônico.

A PRÓTESE Cientistas alemães estudaram a múmia de uma mulher que morreu há cerca de 3 mil anos e descobriram que o dedão do pé direito havia sido amputado e substituído por um dedo de madeira cuidadosamente esculpido e pintado de marrom-escuro. Ela se chamava Tabaketenmut, era filha de um sacerdote e deve ter vivido entre 950 e 710 a.C. A remoção do artelho foi feita durante a vida da pessoa, o que é comprovado pelo fato de ter havido a perfeita cicatrização da região amputada. O dedo substituto ficava preso no lugar por meio de uma série de lâminas de madeira e tiras de couro, como se pode ver na foto acima. Estava provido de uma dobradiça que tentava imitar a flexibilidade das juntas. A prótese visava permitir que a paciente caminhasse comodamente e sem problemas. O dedão suporta até 40% do peso do corpo e sua perda resulta na transferência do peso da pessoa para o fim do primeiro metatarsiano, resultando em instabilidade para ficar em pé e fazendo com que a pessoa manque ao tentar correr. O uso da prótese teria resolvido estes problemas. Ao que parece a mulher, que deveria ter de 50 a 55 anos quando faleceu, sofria de uma degeneração das artérias que restringe o fluxo sanguíneo para as extremidades do corpo, tornando necessário, às vezes, a amputação de dedos ou pernas para evitar a gangrena.
Em 2011 a egiptóloga Jacky Finch, pesquisadora da Universidade de Manchester, na Inglaterra, recriou este artefato incomum, cujo original encontra-se no Museu Egípcio do Cairo, e prendeu-o no pé de um voluntário que havia perdido o artelho maior do pé direito. Usando sandálias do estilo egípcio a pessoa conseguiu andar confortavelmente, demonstrando que realmente a peça poderia ter funcionado como substituto do dedo e que não era apenas uma engenhoca para ser usada no além-túmulo. Por outro lado, cientistas já acharam uma variedade de partes artificiais do corpo restabelecidas em múmias meramente por motivos religiosos, inclusive pés, pernas, narizes, orelhas e até mesmo pênis, porque ainda teria que ser possível procriar na vida após a morte.

RAIO X Um parafuso de ferro com quase 23 centímetros de comprimento foi encontrado por pesquisadores na articulação do joelho da perna esquerda da múmia de um sacerdote egípcio. Essa peça metálica ligando a coxa com a perna do morto é o primeiro exemplo conhecido de correção ortopédica na antiguidade. O parafuso está revestido por uma espécie de resina adesiva, usada provavelmente para cimentar o metal no lugar. O pino tem formato semelhante ao dos pinos que os cirurgiões atuais usam para obter boa estabilidade do osso. Aparentemente os egípcios sabiam como usar os flanges de um parafuso para estabilizar a rotação da perna. Os cientistas descartaram a possibilidade de tratar-se de uma tentativa recente de restauração da múmia e concluíram que o artefato deve ter sido implantado no corpo durante o processo de mumificação, que ocorreu cerca de 630 anos a.C. E por que os egípcios teriam esse trabalho para consertar a perna de um homem morto? Simplesmente porque sendo a reencarnação uma crença profundamente enraizada, eles tudo faziam para preservar o corpo tão bem quanto possível para uma nova existência.

Em 1992 uma toxicóloga e médica legista chamada Svetla Balabanova, do Instituto de Medicina Forense em Ulm, na Alemanha, teve oportunidade de examinar a múmia de Het-Nut-Tawy, uma sacerdotisa da XXI dinastia (c. 1070 a 945 a.C.). Com grande surpresa constatou traços de nicotina e cocaína naquele corpo. O extraordinário é que essas duas substâncias só seriam conhecidas no mundo antigo após a expedição de Cristóvão Colombo, 2500 anos mais tarde. Portanto, sua presença em uma múmia egípcia seria totalmente impossível. Outros testes foram realizados e confirmaram a primeira análise. Acreditando em erro de manipulação, a pesquisadora enviou as amostras a três outros laboratórios e obteve idênticos resultados. Em síntese: a múmia de Het-Nut-Tawy apresentava traços de duas substâncias que só apareceram no Egito pelo menos 25 séculos mais tarde!
Sempre havia a possibilidade de que a múmia houvesse sofrido contaminação externa. Um novo teste foi então realizado usando um método infalível que permite saber se um defunto realmente absorveu a droga. Isso se consegue pelo exame dos folículos capilares, pois eles conservam traços das moléculas correspondentes durante meses, ou indefinidamente no caso de morte e só podem ser metabolizados enquanto o corpo está vivo. Novamente os resultados foram positivos e, portanto, não tinha havido contaminação externa.
Restava ainda a hipótese de que a múmia examinada fosse falsa. Rosalie David, egiptóloga da cidade de Manchester, nos Estados Unidos, suspeitou dessa possibilidade mas, ao ter acesso aos relatórios das pesquisas e considerando o bom estado da conservação do corpo e das faixas que o envolvem, concluiu que a múmia era provavelmente autêntica. Resolveu então efetuar análises nas múmias que tinha sob sua guarda no museu americano e descobriu que duas dentre elas apresentavam traços de nicotina. Essa confirmação provou, de maneira irrefutável, que o tabaco era conhecido na antiguidade.
Em 1976 a múmia de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) esteve em Paris para restauração e constatou-se a presença de cristais característicos do tabaco. Tratando-se de algo impossível de ser concebido, atribuiu-se o fato a algum erro e o assunto foi sepultado. Vinte anos mais tarde a consagrada egiptóloga Christiane Desroches Noblecourt escreveu em seu livro sobre aquele faraó: No momento de sua mumificação, seu tronco foi preenchido com numerosos produtos desinfetantes. Os embalsamadores usaram um fino "picadinho" de folhas de Nicotiana L., encontrado nas divisões internas do tórax, juntamente com depósitos de nicotina, certamente contemporâneos da mumificação, mas que nos trazem um problema, pois esse vegetal era ainda desconhecido no Egito, ao que parece.
Ao prosseguir suas pesquisas, Svetla Balabanova constatou, surpreendentemente, que a quantidade de nicotina encontrada nos cabelos da múmia demonstra um enorme consumo, tão grande que provocaria a morte do consumidor, a menos que esse consumidor já estivesse morto, obviamente. Assim, ela aventou uma outra hipótese: a de que o tabaco entrava no processo de mumificação. Esse procedimento sempre foi guardado em segredo pelos sacerdotes e até hoje são ignorados os detalhes sobre ele e, principalmente, que substâncias eram utilizadas.
A Dra. Balabanova resolveu coletar amostras de corpos preservados naturalmente e abrigados em museus de toda a Europa. Ela as obteve de 134 corpos originários do antigo Sudão, datados de um tempo muito anterior a Colombo ou aos Vikings. Um terço destes corpos continham nicotina e cocaína. Pesquisou também corpos da China, Alemanha e Áustria e, depois de examinar 3000 amostras de um período compreendido entre 3700 a.C a 1100 da nossa era, concluiu, sem sombra de dúvida, que o tabaco era conhecido na Europa e na África muito tempo antes de Colombo.
Quanto a origem do tabaco e da nicotina no antigo Egito, permanece o mistério. Não existem representações da planta do tabaco ou assemelhadas em papiros, relevos ou pinturas dos túmulos e templos. É provável que ele viesse do exterior, mas de onde? Originário da América do Sul, também existem variedades desse vegetal na Oceania e na Polinésia. Sua presença no Egito faz supor a existência de rotas comerciais com tais regiões ou contato com intermediários que de lá o trariam. Essa hipótese é corroborada pelo fato de que já foram encontrados fios de seda em uma múmia egípcia, os quais só podem ter vindo da China.
Com relação à cocaina, existem na África plantas assemelhadas à coca, mas nenhuma delas contém droga. Para os botânicos, a presença de uma planta com as mesmas características da coca americana naquele continente é uma heresia. A verdade é que a hipótese de comércio transoceânico na antiguidade já não pode ser descartada liminarmente e é possível que tenha havido contato entre o Peru e o Egito antigos. É possível que a coca — uma planta sul americana — tenha encontrado seu caminho para o Egito há mais de 3000 anos atrás? A resposta definitiva para essa pergunta ainda não foi dada.

MÚMIA DE RAMSÉS I Em 2003 o Michael C. Carlos Museum (MCCM) devolveu ao Egito uma múmia que se acredita seja a de Ramsés I (c. 1307 a 1306 a.C.), o fundador da XIX dinastia (foto acima). Os curadores daquela instituição de Atlanta, nos Estados Unidos, fizeram a devolução por estarem convencidos de que o corpo deve permanecer com seus donos. Na realidade, a múmia do grande faraó vagou por vários museus americanos e laboratórios arqueológicos durante um século, depois que deixou o Egito em 1871 como parte de uma pilhagem de tesouros efetuada em larga escala no Vale dos Reis. No MCCM, a múmia foi submetida a três anos de intensos estudos. Ecografias, radiografias, datação por radiocarbono, análise por computador e outras técnicas foram usadas para identificar a múmia e assegurar que era de fato uma múmia real. Os pesquisadores estão 95% certos de que o corpo pertence a Ramsés I, o pai de Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.) e avô de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.). Embora não haja certeza absoluta de tratar-se daquele faraó, é absolutamente certo de que se trata do corpo de um rei.