O LEAO GUERREIRO


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OUTRO DEUS QUE, COMO MONTU, ERA ASSOCIADO à Guerra recebia o nome de Maahes. Podia ser representado por um homem com cabeça de leão empunhando uma faca ou uma espada. Às vezes usava na cabeça o disco solar e o uraeus ou a coroa atef, constituída por uma comprida touca branca com uma pena de cada lado. Aparecia, ainda, simplesmente como um leão, como nessa peça em bronze que vemos acima, e, ocasionalmente, como um leão devorando um prisioneiro de guerra. Seu nome também aparece grafado como Mahes, Mithos ou Miysis, os dois últimos dados pelos gregos. Tinha uma esposa chamada Tekhait, uma deusa-serpente do fogo, bebedora de sangue. Além de guerreiro, esse deus era considerado guardião do horizonte, pois os egípcios associavam os leões ao horizonte, já que os felídeos viviam nos desertos a leste e oeste do Nilo, regiões nas quais o Sol nasce e se põe. Durante a viagem de pelo mundo subterrâneo, Maahes o ajudava a lutar contra a serpente Apófis e, analogamente, protegia o faraó em suas batalhas.

DEUS ORIGINÁRIO DE LEONTÓPOLIS, cidade do Baixo Egito, no delta oriental, tinha lá seu centro de culto, mas era venerado também nos oásis de Bahariya e Siwa; no Alto Egito, como, por exemplo, em Dendera e Edfu, e na Núbia. Seu templo em Leontópolis, infelizmente, sofreu muito com a retirada de blocos que foram utilizados em outras construções e hoje não se sabe ao certo nem mesmo a data de sua edificação. Mesmo assim, nas escavações ali realizadas em 1992 foram encontrados muitos bronzes representando leões, bem como estatuetas e estelas da divindade. O autor grego Estrabão escreveu sobre a existência de uma Cidade dos Leões no Egito e parece quase certo que ele estava se referindo a Leontópolis.

CONSIDERADO GERALMENTE COMO FILHO DE RÁ, o deus-Sol, e de Bastet, a deusa gata, em Bubastis esse deus era tido como filho de Ptah e Bastet, enquanto que em outras localidades dizia-se que era filho de Ptah e Sekhmet ou de Rá e Sekhmet. Na realidade os egípcios confundiam as duas deusas e seus filhos. Ele também era relacionado a Nefertem, o qual formava a tríade menfita com seus pais, Ptah e Sekhmet. Nefertem e Maahes provavelmente foram especialmente confundidos pelos egípcios em função de suas respecitivas mães: Sekhmet e Bastet. Ainda estava relacionado com o deus guerreiro Anhert, bem como com o deus do céu Shu, outra divindade que podia ser representada na forma de um leão. Recebia os epítetos de Manejador da Faca, O Deus Escarlate, uma referência a sacrifícios sangrentos a ele prestados, O Ajudante dos Sábios, Senhor da Matança, O Iniciador, Vingador de Injustiças, O Leão Furioso e Senhor da Terra das Filhas, alusão a um paraíso especial onde as sacerdotisas do deus residiam após a morte.

ACREDITA-SE QUE LEÕES TENHAM SIDO CRIADOS NOS templos dessa divindade, onde teriam amplos espaços para vagar, seriam providos de carne de bois diariamente e se alimentariam com acompanhamento de canções no idioma egípcio. Osorkon III (c. 883 a 855 a.C.) ergueu um templo dedicado a ele em Bubastis, a cidade consagrada à mãe do deus. Seu nome porém é encontrado em papiros bem mais antigos, datados do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.), quando parece ter surgido pela primeira vez, sendo provavelmente divindade de origem estrangeira, já que alguns estudiosos sugerem que Maahes pode ter sido uma assimilação do deus leão da Núbia, Apedemak.

NO PERÍODO ENTRE 525 e 332 a.C. a cidade de Leontópolis foi ocupada pelos persas e a representação artística de leões naquele local mostram uma forte influência persa. Um exemplo disso são as estatuetas que mostram leões rosnando e o uso de pastas coloridas incrustadas nas peças. Maahes foi uma divindade bastante valorizada pelos reis persas, provavelmente porque eles se identificavam com o poderio do leão. Também na dinastia ptolomaica (304 a 30 a.C.) o culto do deus parece ter sido muito ativo. No Período Greco-Romano (332 a.C. a 395 d.C.) era considerado um deus dos ventos e das tempestades e também associado a perfumes e óleos.

MAAHES REPELE O MAL, protege os iniciados e permanece de guarda durante os ritos mágicos, sendo guardião dos lugares sagrados. Nos grandes templos, por exemplo, sua imagem frequentemente era colocada na entrada exercendo esse papel. Deus do Sol no delta do Nilo e divindade do solstício de verão, era tido como a personificação do calor abrasador. Maahes era visto como uma divindade que podia ser invocada nos aspectos referentes às curas, fosse da mente ou do corpo, e também como uma fonte de proteção. Divindade da visão divinatória, era chamado para que invocasse as almas dos homens, dos deuses, e dos espíritos do mundo subterrâneo para adivinhações ou para descobrir a verdade de um determinado assunto. Era ele que protegia os mortos inocentes e punia os culpados, os que houvessem violado a verdade e a justiça, ou seja, aqueles que tivessem ofendido a deusa Maat. De fato, a palavra Maahes parece significar Verdade Antes Dela, o que ajudaria a confirmar sua associação com Maat, no sentido de que ele é um sustentáculo da verdade divina. Portanto, a ele também se poderia apelar em relação aos casos que envolvessem a verdade e a justiça.

A INICIAÇÃO AO CULTO DE MAAHES envolvia algo conhecido como dominando o leão, uma prática classificada de a pequena morte. Seus iniciados tinham que confrontar e superar seus piores medos, preocupações, preconceitos, fracassos e emoções antes de progredirem para graus mais altos. Tal prática compreendia o ferimento e a renovação do olho esquerdo, associado com a lua e poderes mágicos. Através desse processo, a visão do iniciado era estendida do mundo terrestre ao espiritual, pois Maahes era o guardião da porta do plano astral e seu olho e mão vigiavam os portões da noite. Os iniciados de Maahes supostamente ficariam capacitados a ver os espíritos dos mortos. Tais pessoas não tinham medo da morte, pois haviam sido convencidas de que no outro mundo Maahes os carregaria em seus ombros por cima dos abismos. Os ritos dessa divindade eram celebrados com procissões, música, dança e orgias. Seus sacerdotes usavam branco, e parte de seus deveres consistia em fazer oferendas de leite e mel em cavernas rochosas no alto de precipícios, longe dos templos. Eles admitiam sacrifícios em nome da divindade e alimentavam os leões que mantinham em seus templos com os corações dos animais sacrificados.