A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus A Serpente Uraeus

A SERPENTE URAEUS


Introdução
Touro Ápis
Touro Mnévis
Touro Buchis
Babuíno
Chacal
Lobo
Íbis
Leoa
Gata
Falcão

Sol no Horizonte

Hórus de Edfu
Hórus Antigo
Hórus Menino

Hórus, Filho
de Ísis


Olho de Hórus
Filhos de Hórus Deus da Guerra Leão
Escaravelho

Carneiro de Amon

Carneiro de Khnum


Escorpião
Deus Terra

Guardião dos Horizontes

Pássaro Alma
Fênix
Bode
Crocodilo
Hipopótamo
Vaca
Peixes
Abutre

Naja da Colheita

Naja do Cume do Ocidente

Serpente Uraeus

Serpente Apófis

Serpente Defensora

Serpentes do Inferno

Glossário HOME PAGE
ORNAMENTO PROFILÁTICO particularmente eficaz — nos ensina a egiptóloga Elisabeth Delange —, o uraeus que adorna a fronte dos deuses e do rei, ergue-se também sobre os monumentos que deveriam ser protegidos. A cobra, pronta para o ataque, com o pescoço dilatado, foi dada aos homens pelo deus-Sol. Uma lenda conta que o deus criador, na origem do mundo, foi privado de seu olho. envia então seus mensageiros divinos Shu e Tefnut à sua procura. Tão longa foi a sua ausência que Rá substitui o infiel. "O Olho" enfim de volta, derrete-se em lágrimas ao ver que seu lugar fora ocupado. Os homens (literalmente rémet) assim nasceram de suas lágrimas (rémyt), o jogo de palavras aqui criando sua origem mítica. E para apaziguar "o olho", Rá o transforma em serpente-uraeus e o coloca na fronte como símbolo de seu poder para combater os rebeldes. Os faraós, ao levarem em seu diadema a imagem dessa áspide mosqueada, faziam-no, com certeza, como símbolo da invencibilidade de seu poder, já que os egípcios encaravam a cobra como um símbolo de soberania. Ela também pode ser vista, algumas vezes, sobre a cabeça da deusa Ísis.

A FOTO QUE VEMOS ACIMA é de um friso em madeira e vidro que mede 47,5 WADJIT NA FORMA DE LEOA centímetros de largura por 12,5 centímetros de altura, datado do Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.) e pertencente ao Museu do Louvre. Nele cinco uraei e cinco figuras do deus Rá-Harakhti se alternam em fila. A peça foi destinada, provavelmente, a ser encaixada no topo de um mobiliário precioso de algum templo. As cavidades deixadas na madeira permitem incrustações de vidro e de pasta coloridas, que deviam sobressair com brilho, em vermelho e azul, sobre uma película de ouro da qual restam traços.

ESSA SERPENTE-URAEUS se identifica com a deusa Wadjit, divindade tutelar do Baixo Egito também conhecida como Wadjyt, Wadjet, Uadjet, Uajit, Uajyt, Uazet, Uatchet, Uto, Buto ou Edjo. Podia ser representada não apenas por uma naja usando a coroa vermelha do Baixo Egito, a forma mais comum, mas também como uma mulher usando a mesma coroa, como uma mulher com cabeça de naja, como uma naja alada e, mais raramente, como uma mulher com cabeça de leoa ou como uma leoa, o que era usual para as divindades associadas ao olho de Rá. Quando representada sob a forma de leoa, usava o disco solar e o uraeus sobre a cabeça. É o que vemos na foto à esquerda. Trata-se de uma peça de metal cobreado, exposta no Museu do Louvre, datada da XXVI dinastia (664 a 525 a.C.). Seu principal centro de culto era a cidade de Buto, no delta nilótico, de onde ela era originária. Foto exclusiva deste site © Marly Comíssoli Sá

ENQUANTO URAEUS significa aquela que se ergue, seu nome significa Aquela que é Verde ou Aquela do Papiro. Na proteção ao rei ela se erguia em sua fronte pronta a injetar veneno em seus inimigos e formava par com a deusa abutre Nekhbet, divindade do Alto Egito, como vemos, por exemplo, neste diadema encontrado sob as bandagens da múmia de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.). Um dos cinco nomes do faraó era o seu nome nebty ou das duas damas, o qual justamente se referia a essas duas deusas. Esse título surge pela primeira vez no reinado de Adjib, um faraó da I dinastia. De origem pré-dinástica, uma das divindades egípcias mais antigas, Wadjit era inicialmente uma deusa local em Buto (Per-Wadjit — a cidade de Wadjit), capital do 5.º nomo do Baixo Egito, mas seu culto cresceu a ponto dela se transformar na divindade tutelar de todo o Baixo Egito e de receber os títulos de O Olho de Rá e de uma das duas damas do faraó. Por sua associação com o deus-Sol era considerada uma divindade do calor e do fogo, o que aumentava seu papel como deusa protetora, já que podia usar não apenas veneno, mas também labaredas contra os inimigos do rei.

ENTRETANTO, A TERRÍVEL NAJA também tinha facetas mais brandas: era tida como protetora das crianças e da hora do parto e, ainda, havia uma estreita ligação sua com a natureza. Nos Textos das Pirâmides afirma-se que a planta do papiro emerge dela e que ela está ligada às forças do crescimento vegetal. Também se acreditava que ela pessoalmente havia criado os pântanos de papiro. Wadjit surge em algumas passagens lendárias. Quando, por exemplo, Ísis estava procurando as partes do corpo de Osíris, escondeu seu filho Hórus nos pântanos do delta nilótico sob os cuidados daquela deusa, a qual, inclusive, ajudou a alimentá-lo. Por sua vez, quando Hórus usa o disco solar alado para procurar e derrotar os aliados de Seth, seu inimigo, a deusa o acompanha. Essa é uma das origens da ligação da deusa com o faraó, já que os egípcios acreditavam que o faraó era o Hórus vivo. Ela não apenas protegeu Hórus em sua luta, mas também protegia o faraó desde a infância até a morte. Assim, representava a mãe mítica do rei e, em algumas figurações, podia aparecer amamentando-o.

DE MANEIRA GERAL WADJIT ERA TIDA COMO ESPOSA DE Hapi, o deus do Nilo. Entretanto, em Buto era considerada esposa de Ptah e mãe de Nefertem (em lugar de Sekhmet ou Bastet), provavelmente por causa do aspecto de leoa que podia assumir. A quinta hora do quinto dia de cada mês era consagrada a ela e havia várias festas em sua honra. Em ordem cronológica, a primeira ocorria no 10.º dia do 6.º mês do ano egípcio, denominado mechir, correspondente ao nosso 25 de dezembro; outra acontecia no 7.º dia do 10.º mês do ano egípcio, denominado payni, correspondente ao nosso 21 de abril; as festividades maiores, entretanto, ocorriam no 11.º mês do calendário egípcio, denominado epiphi, mês de colheita, correspondendo ao período entre meados de maio e meados de junho do nosso calendário; finalmente, havia outra cerimônia no solstício de verão, no 8.º dia do 12.º e último mês do ano egípcio, denominado mesore, correspondendo ao nosso 21 de junho. A partir da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.) a deusa começou a ser representada como protetora das mulheres reais e muitas das rainhas principais passaram a usar coroas com vários minúsculos uraei.

NO PERÍODO TARDIO (c. 712 a 332 a.C.) OUTRO ANIMAL foi associado à deusa Wadjit: o mangusto. Contraditoriamente esse animal, também chamado de rato de faraó, é conhecido por sua habilidade em matar cobras e esmagar ovos de crocodilo. O que ocorre é que no Período Tardio as tradições locais foram frequentemente reunidas o que resultou em reunião de mitos antes distintos. As deidades de Leontópolis e de Buto, cidades do delta, foram associadas através da mitologia e o mangusto — um animal sagrado de Hórus em Leontópolis — se tornou um animal sagrado da deusa Wadjit de Buto. Ao contrário do que ocorria com outros animais sagrados que apareciam individualmente, os mangustos surgem ocasionalmente acondicionados em estatuetas da deusa Wadjit com cabeça de leoa. O tipo mais comum de tais peças representa a deusa sentada em um trono, geralmente coroada pelo uraeus, enquanto que o próprio trono ou sua base, que habitualmente tem uma concavidade, contém um mangusto mumificado.