A DEUSA ABUTRE


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DIVINDADES TUTELARES DO EGITO TANTO O Baixo quanto o Alto Egito tinham suas divindades tutelares. Enquanto que a do Baixo Egito era a deusa Wadjit, a do Alto Egito era Nekhbet, uma deusa abutre de origem pré-dinástica que ajudava nos nascimentos reais e divinos. Seu nome também pode ser grafado Nekhebet ou Nechbet e significa aquela de Nekheb. Ela aparece representada como um abutre usando a coroa branca do Alto Egito, com as asas abertas num gesto protetor e segurando em suas garras o símbolo em forma de anel que representa o conceito de eternidade. É dessa maneira que a vemos nesse peitoral encontrado sob as bandagens da múmia de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.). Mas ela também pode ser mostrada como uma mulher portando a mesma coroa ou um toucado em forma de abutre; como uma mulher com cabeça de abutre e, finalmente, como uma serpente com a coroa branca na cabeça.

SEUS PRINCIPAIS CENTROS DE CULTO eram duas cidades do sul do Alto Egito: Nekheb, a Eileithiyáspolis dos gregos, moderna el-Kab, situada na margem oriental do Nilo, e Nekhen, a Hieracômpolis dos gregos, atual Kom el-Ahmar, do lado oposto do rio, as quais foram povoações muito importantes durante os períodos pré-dinástico e dinástico primitivo. Esse fato refletiu-se na elevação da deusa do local a divindade protetora da soberania dos faraós, fazendo com que ela apareça, às vezes, no diadema real ao lado da serpente Wadjit. Esse é o caso da máscara mortuária de ouro maciço de Tutankhamon, cujo detalhe vemos abaixo. A Branca de Nekhen, como também era chamada, sendo talvez este seu mais importante epíteto, era tida como guardiã de mães e crianças e, juntamente com Wadjit, era uma das duas damas do faraó que apareciam no nome nebty do rei. Esse último título surge pela primeira vez no reinado de Adjib, um faraó da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). Aliás, essas duas divindades costumavam aparecer geralmente aos pares.

POR SUA LIGAÇÃO COM O FARAÓ E A COROA, Nekhbet aparecia frequentemente em cenas nas quais o rei guerreava ou fazia oferenda aos deuses. Em tais casos é mostrada como um abutre sobrevoando a cabeçaO ABUTRE DA MÁSCARA DE TUTANKHAMON do faraó e trazendo em suas garras o símbolo de eternidade, a pena da deusa Maat e o mangual real. Também aparecia às vezes como a mãe da natureza divina do rei, amamentando-o. Nesse papel era conhecida como A Grande Vaca Branca de Nekheb, representada com tetas pendentes e vista como deusa protetora do faraó desde sua infância até a morte. Por sua função protetora, era frequentemente representada como um abutre de asas abertas no teto dos templos. Venerada como deusa do nascimento e vista como protetora e nutriz tanto de faraós quanto de deuses, justamente em função desse seu vínculo com o soberano não foi uma divindade muito popular no início da história egípcia. Foi apenas durante o Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) que o povo começou a adorá-la como protetora de mães, crianças e da hora do parto. Até então ela era especificamente a protetora do faraó.

ASSIM COMO WADJIT ERA TIDA NO BAIXO Egito como esposa de Hapi, o deus do Nilo, Nekhbet tinha o mesmo papel no Alto Egito. Outra associação da divindade era feita com a deusa Mut, deusa mãe de Tebas e esposa de Amon, a qual também assumia a forma de abutre. Era o abutre fusco (Gyps fulvus) a espécie particular do animal que usualmente era vinculado às deusas e à realeza. Na lenda que conta as batalhas entre Hórus e Seth, a exemplo do que acontecia com a deusa Wadjit, quando Hórus usou o disco solar alado para procurar e derrotar os aliados de seu inimigo, a deusa Nekhbet o acompanhou sob a forma de uma serpente coroada. Ao ser representada sob a forma de serpente, a divindade também recebia o título de O Olho de .

EM NEKHEB FOI ERGUIDO UM TEMPLO dedicado a Nekhbet o qual englobava a casa do nascimento da deusa (mammisi), outros pequenos templos, um lago sagrado e cemitérios. Embora as primeiras construções sejam de um período primitivo, os maiores projetos foram desenvolvidos durante a XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.). Foi também a partir dessa época que aquela divindade começou a ser representadaO ABUTRE DE NEKHBET como protetora das mulheres reais e muitas das rainhas principais passaram a usar coroas nas quais se viam pequenas cabeças de abutre, o que identificava a soberana não apenas com Nekhbet mas também com a deusa mãe Mut. As ruínas que ainda restam do templo pertencem ao perídodo da XXIX (399 a 380 a.C.) e XXX (380 a 343 a.C.) dinastias, o que mostra que a divindade ali foi venerada por todo o decorrer da história egípcia. Como protetora pessoal do faraó ela tornou-se símbolo da realeza. A jóia retratada parcialmente ao lado foi encontrada no túmulo de Tutankhamon.