A ALIMENTAÇÃO

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COZINHANDO

Os egípcios gostavam de comer bem, mas não nos deixaram nenhum manual de culinária entre seus papiros. Através das representações das pinturas e relevos, algumas informações puderam ser obtidas pelos egiptólogos, não apenas quanto aos alimentos consumidos, mas também quanto a sua preparação. Carne de gado ou de galináceos, peixes, legumes e frutas faziam parte das refeições daquele tempo. Os pães tinham presença marcante na mesa e entre as bebidas a cerveja era a preferida. Usando facas, colheres e garfos, ou simplesmente comendo com as mãos, os egípcios tinham uma alimentação rica e saudável.

A carne sempre foi consumida em quantidade, principalmente a do boi. O assim chamado boi africano é um animal com chifres avantajados, de grandes proporções e rápido no caminhar. Esse animal era submetido a um regime de engorda que o tornava enorme e pesado, até o ponto de ficar impossibilitado de andar. Só então estava pronto para o abate. Ao que parece, a carne era servida geralmente cozida, provavelmente em molho, mas havia alguns tipos de carne que eram assadas no espeto. Entretanto, a carne era uma comida de luxo para a maioria das pessoas, que talvez só a consumissem em ocasiões especiais como, por exemplo, nos banquetes funerários. Pedaços de carne são representados freqüentemente nos túmulos em estelas, ou compondo o conjunto de produtos dispostos nas mesas de oferendas como eterno alimento para o falecido.

Uma vez que a galinha só foi introduzida no Egito tardiamente, criava-se e PATOSconsumia-se outros tipos de aves em grande escala. Em papiros que registram donativos aos templos, as quantidades de aves citadas são mpressionantes. Um deles menciona 126 mil e duzentas aves, dentre as quais 57 mil e oitocentos e dez pombos. A caça, portanto, era uma atividade bastante cultivada pelos egípcios. Os galináceos eram consumidos grelhados, de preferência. Entretanto, Heródoto nos conta — e os documentos confirmam a informação — que os egípcios comiam crus as codornizes, os patos e alguns pequenos pássaros que tinham o cuidado de salgar antes. Todos os pássaros restantes eram comidos assados ou cozidos. As aves aquáticas eram abertas e postas a secar. Os templos as recebiam vivas, secas ou ainda preparadas para consumo a curto prazo.

Embora em algumas localidades egípcias fosse proibido consumir certas PEIXESespécies de peixe em datas específicas, a maior parte da população comia peixe normalmente. Por sua vez, os habitantes da região do Delta e os que moravam às margens do lago Fayum eram pescadores por profissão. Quanto aos peixes, Heródoto informa que alguns eram comidos crus e secos ao sol ou postos em salmoura. Entretanto, várias outras espécies eram comidas assadas ou cozidas. Uma vez pescados, os peixes eram estendidos no solo, abertos e postos a secar. Visando a preparação do escabeche, eram separadas as ovas dos mugens. Mais uma vez um papiro cita a quantidade de peixes doados a três templos: 441 mil. Os templos recebiam não apenas peixes frescos, mas também secos. Como se vê, a pesca era outra atividade importante.

Rabanetes, cebolas e alhos fazem parte da dieta egípcia, sendo que estes últimos eram muito apreciados. Melancias, melões e pepinos aparecem representados com freqüencia nas pinturas dos túmulos, sendo que neles os arqueólogos também encontraram favas, ervilhas e grãos de bico. Nas hortas domésticas cultivava-se a alface, a qual os egípcios acreditavam que tornava os homens apaixonados e as mulheres fecundas e, assim, consumiam-na em grande quantidade, crua e temperada com sal e azeite. Min, o deus da fecundidade, tem às vezes sua estátua erguida no meio de um quadrado de alfaces, sua verdura preferida. Seth, segundo nos conta a lenda, era outro deus apreciador de alface.

Com relação aos frutos, consumiam uvas, figos e tâmaras, sendo que estas COLHENDO FIGOSúltimas também eram empregadas em medicamentos. A romeira, a oliveira e a macieira foram introduzidas no Egito somente por volta de 1640 a.C. O azeite era utilizado não apenas na alimentação, mas também para iluminação. Frutos como laranjas, limões, bananas, peras, pessegos e cerejas não eram conhecidos dos antigos egípcios, sendo que os três últimos só passaram a ser consumidos na época romana. Nesse capítulo os mais pobres muitas vezes só podiam mascar o interior dos caules de papiros, a exemplo do que fazemos hoje com a cana de açucar.

O leite era recolhido em vasos ovais de cerâmica tampados com um punhado de ervas, evitando-se fechar totalmente a abertura, para afastar os insetos do líquido. O sal era utilizado na cozinha e em medicamentos. O papel do açucar era desempenhado pelo mel e pelos grãos de alfarroba. Embora o mel e a cera de abelha fossem TIRANDO LEITEbuscados no deserto por homens especializados nesse ofício, também havia criação de abelhas no exterior das residências. Para a formação das colmeias colocavam-se jarras de cerâmica e os apicultores caminhavam sem proteção por entre os insetos, afastando-os com as mãos nuas para recolher os favos. O mel era mantido em grandes tijelas de pedra, seladas. Em suas iguarias os egípcios empregavam ainda manteiga ou nata e gordura de pato ou de vitelo. Ao lado, detalhe da parede de um túmulo datado do reinado do faraó Teti (c. 2323 a 2291 a.C.). Para ver um aspecto mais geral desse relevo, que apresenta cenas da lida com o gado, clique aqui.

Pães e bolos eram preparados nas casas das pessoas ricas e tambémCARREGANDO BOLOS nos templos, o que incluia a moagem dos grãos. É possível, entretanto, que moleiros e padeiros independentes trabalhassem para atender as pessoas humildes. A panificação era um trabalho conjunto de homens e mulheres. Na figura ao lado vemos uma serva carregando uma oferenda de pão e carne. A peça, cuja altura é de 38 centímetros, foi datada como sendo da XII dinastia (1991 a 1783 a.C.). Para ver uma outra foto dessa figura, clique aqui.


A bebida número um dos egípcios era a cerveja, consumida em todo o país, tanto nas cidades como nos campos. Era feita com cevada ou trigo e tâmaras e sorvida em taças de pedra, faiança ou metal, de preferência em curto espaço de tempo, pois azedava com facilidade. O vinho, sem dúvida, ficava em segundo lugar na preferência etílica dos egípcios, havendo grande comércio do produto. Eles apreciavam o vinho doce, de uma doçura que ultrapassasse a do mel.

Os egípcios alimentavam-se sentados, a sós ou acompanhados, diante de uma mesinha sobre a qual eram postas as provisões. Os rapazes sentavam-se sobre almofadas ou esteiras. Pela manhã não havia a reunião da família para a refeição. O marido e a esposa eram servidos em separado. Ele, tão logo se aprontara e ela ainda quando a penteavam ou logo após. Pão, cerveja, uma coxa de galináceo e um bolo era um bom repasto para o esposo.

A ementa das grandes refeições compreendia, com toda a verosimilhança, — nos conta Pierre Montet — carnes, galináceos, legumes e frutos da estação, pães e bolos, tudo bem regado com cerveja. Não é de todo certo que os egípcios, mesmo os da classe rica, comessem carne a todas as refeições. É preciso não esquecer que o Egito é um país quente e que o comércio de miudezas mal existia. Só podiam mandar abater um boi aqueles que estavam certos de o consumir em três ou quatro dias, isto é, os grandes proprietários que tinham um pessoal numeroso, o pessoal do templo, os que davam um festim. As pessoas humildes só o faziam para festas e peregrinações.

Os arqueólogos, em suas escavações, encontraram pratos, terrinas, travessas, cálices, facas, colheres e garfos, o que abre a possibilidade para o consumo de sopas, purês, pratos guarnecidos acompanhados de molho, compotas e cremes. As baixelas dos ricos eram de pedra: granito, xisto, alabastro e uma certa espécie de mármore. As taças de formato pequeno eram de cristal. Por outro lado, o material pictórico deixado pelos egípcios mostra que, à mesa, eles se serviam muito dos dedos e podiam mergulhá-los em tigelas com água para lavá-los.

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