Cientistas de várias partes do mundo se debruçam periodicamente sobre as múmias egípcias na tentativa de descobrir quais os principais produtos usados na mumificação. Os egípcios não deixaram documentação a esse respeito. Sem dúvida a substância conhecida como natrão era a grande responsável pela desidratação dos corpos. Trata-se de um produto da natureza encontrado em abundância em algumas regiões do Egito. Ele é formado por uma mistura de carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, cloreto de sódio e sulfato de sódio. O carbonato de sódio trabalha como um agente secante, retirando a água do corpo. Enquanto isso, o bicarbonato, submetido à umidade, aumenta o pH criando um ambiente hostil para as bactérias. O clima egípcio também contribuiu para o processo de mumificação por ser muito quente e seco.
O natrão foi achado pelos arqueólogos em caixas, jarros e pacotes dentro das tumbas, em covas onde havia refugo de materiais de embalsamamento e até embutido em mesas de madeira destinadas ao trabalho de mumificação. Foi considerado como um grande agente purificador provavelmente porque agia quimicamente destruindo gorduras e graxas. Era usado em todas as cerimônias de purificação e também era misturado com incenso com o mesmo objetivo purificador.
A primeira evidência do uso de natrão para secar o corpo vem de um túmulo da IV Dinastia (c. 2575 a 2465 a.C.). Os órgãos da rainha Hetepheres, mãe de Kéops (c. 2551 a 2528 a.C.), foram encontrados em um recipiente contendo solução de natrão. Em um sepultamento de várias princesas enterradas juntas durante a XI dinastia (c. 2134 a 1991 a.C.) observa-se o primeiro uso de grandes quantidades de natrão seco empacotado ao redor dos corpos para remover toda a água.
Entretanto, os antigos egípcios também usavam misturas complexas de extratos de origem vegetal ou animal para embalsamar seus cadáveres, segundo revelaram estudos científicos relativamente recentes nessa área. As análises foram levadas a cabo, em 2001, por dois químicos da Universidade de Bristol, na Inglaterra, em múmias que abarcam um período de 2300 anos da história egípcia. O cuidado com o qual os egípcios realizavam o trabalho pode ser percebido, por exemplo, nessa cabeça de homem mumificada que vemos acima, a qual se encontra no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
Os pesquisadores descobriram traços de uma ampla variedade de substâncias naturais, algumas não relatadas em pesquisas anteriores, inclusive gordura animal, óleos de plantas, cera de abelha, e resinas, em 13 corpos mumificados. A presença dos óleos vegetais e, em menor quantidade, das gorduras animais, sugere que se tratava de ingredientes fundamentais para o processo. Ao que parece, para não encarecer demasiadamente a técnica, os embalsamadores misturavam ingredientes baratos e abundantes com o exótico junípero e óleos de cedro importados do Oriente Médio. Com a passagem do tempo eles iam modificando seus procedimentos, selecionando os produtos com as melhores propriedades antibacterianas.
No decorrer de séculos de experimentação os sacerdotes aprenderam a remover os órgãos internos causadores de apodrecimento e a tratar o corpo com substâncias como sais, resinas, óleo de cedro, goma, mel e betume, que possuem propriedades secantes e antimicrobianas. Quanto ao betume, as únicas múmias humanas nas quais esse material foi usado pertencem ao período Greco-Romano (332 a.C. a 395 d.C.) e mesmo nessa época o material não foi usado de forma universal. Pode ter sido usado em algumas múmias de animais. A variedade de materiais e de procedimentos teria sido maior do que se pensava antes, tanto numa única dinastia quanto entre períodos históricos. Isso tanto pode ter sido causado pelo custo e disponibilidade dos materiais, quanto por modismos, ou preferências de grupos específicos de sacerdotes. Assim como hoje em dia as pessoas prósperas selecionam madeiras exóticas e metais decorativos caros para os caixões de seus parentes, os egípcios ricos podem ter escolhido o material de embalsamento mais dispendioso, deliberadamente, para impressionar a família e os amigos.
O uso de óleos secantes estava claramente difundido, com resinas de coníferas e cera de abelha crescendo em importância com o passar dos anos. As resinas de coníferas são capazes de diminuir a velocidade da degradação microbiana, ao passo que a cera de abelha tem propriedades antibacterianas e serve como selante. Esta substância era frequentemente usada para cobrir as orelhas, os olhos, o nariz, a boca e a incisão no abdómen. Às vezes é encontrada em outras partes do corpo. Os autores do estudo chamam a atenção para o fato de que a palavra copta para cera é mum.
Uma equipe científica alemã que estudou esse assunto um pouco mais tarde, ou seja, em 2003, concluiu que o principal preservativo era um extrato retirado do cedro, o qual contém um produto químico chamado guaiacol, velho conhecido da medicina moderna. Segundo eles, aí reside o segredo da preservação dos corpos por centenas de anos. A equipe testou em costelas de porco frescas as substâncias químicas achadas no produto derivado do cedro e descobriu que elas têm um efeito antibacteriano extremamente alto, sem prejudicar o tecido do corpo.
A grande novidade da descoberta está no fato do preservativo ser extraído do cedro e não do junípero, também conhecido como zimbro, como se pensava até agora. Os cientistas também testaram o extrato de zimbro, mas concluíram que ele não contém guaiacol. Apesar de antigas menções ao suco de cedro, os estudiosos acreditavam que o junípero fosse a fonte pelo fato de ter havido, no início do século XX, uma certa confusão entre os nomes científicos das duas plantas
e porque algumas múmias foram achadas apertando bagas de junípero. Na medida em que os assaltantes das tumbas obrigavam os sacerdotes a enterrarem os faraós numa maior profundidade, onde a decomposição dos corpos seria mais rápida, tornava-se necessário o uso de outro preservativo que não apenas o salgamento do cadáver com natrão.
Nas experiências realizadas na Alemanha, o óleo foi extraído do cedro por um método mencionado em um trabalho do enciclopedista romano Plínio, o Velho, que escreveu sobre um ungüento de embalsamamento chamado cedrium. Ele relatou: A madeira da árvore é picada e posta em fornos… o primeiro líquido que aparece flui como água… ele é chamado suco de cedro… no Egito é usado para embalsamar os corpos dos mortos. Essa descrição nunca foi levada muito em conta por ter sido escrita muitos séculos depois da época na qual os egípcios mumificavam os corpos.
Agora, entretanto, se provou que a substância descrita por Plínio contém guaicaol, que parece ser o preservativo chave do processo. Foi crucial para a pesquisa o fato da equipe alemã ter encontrado, junto a uma múmia extremamente bem conservada da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.), material para mumificação não utilizado. Isso lhes permitiu levar a cabo a análise química do produto não afetado pelo contato com os tecidos do corpo. Seja como for, sais, resinas, óleo de cedro, vinho de palma, mirra, cássia, goma, mel e natrão, tudo contribui para a secagem do corpo e o combate aos micróbios.
Cebolas foram achadas nas bandagens e ataúdes da XIII dinastia (c. 1783 a 1640 a.C.) e da XXII dinastia (c. 945 a 712 a.C.). Às vezes eram colocadas cascas de cebola sobre os olhos do morto. Também foram colocadas cebolas na pélvis, no tórax e nos ouvidos. Serragem foi encontrada em cavidades do corpo de algumas múmias, inclusive no interior do cérebro, solta ou em pacotes, e como parte do material de refugo do embalsamamento dentro de tumbas. Depois de envolta nas bandagens, havia aparentemente outra cerimônia que consistia em verter um líquido ou material resinoso semi-líquido em cima da múmia e, às vezes, também em cima do ataúde e em cima das vísceras depois que elas tivessem sido postas nos vasos canopos.