HORUS O ANTIGO


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EM TEMPOS MUITO REMOTOS OS egípcios cultuaram um deus chamado Hórus, simbolizado pelo falcão — que parece ter sido a primeira coisa viva que eles adoraram —, ao qual deram o epíteto de Senhor da luz e do céu. Seu olho direito é o Sol e o esquerdo, a Lua. Essa divindade era o deus-Sol, da mesma forma que e, em épocas mais recentes da história egípcia, acabou sendo confundido com Hórus, filho de Ísis e Osíris.

ESPECIALMENTE ADORADO EM Letópolis, de onde era originário, ali recebia o nome de Horjenti Irti, significando Hórus que governa com os dois olhos, e também era conhecido como o Senhor do Sol e da Lua. Outros de seus nomes, dependendo da região do culto, foram: Hor Merti — Hórus dos dois olhos, sendo então representado segurando nas mãos os olhos Uedjat ou o Uraeus; Mekhenti-en-irty — Aquele em cuja face não há olhos, nome que lhe era atribuído nas noites sem luar, ou seja, quando tanto o Sol quanto a Lua estavam ocultos, sendo nesse caso considerado o patrono dos cegos, e Hor Nubti, ou seja, Hórus, vencedor de Seth, entre outros. Sendo um deus guerreiro por excelência, munido de uma espada, podia ser especialmente perigoso para os que o rodeavam quando se encontrava desprovido da visão e durante uma batalha em particular ele não apenas decepava a cabeça de seus inimigos, mas também a de outras divindades que lutavam a seu lado, mergulhando assim o mundo em súbita confusão, que era desfeita apenas quando sua visão voltava. Seu nome mais usual, entretanto, era Hor Ur, que os gregos traduziram para Haroéris e que significa Hórus, o Antigo, Hórus, o Velho, ou Hórus, o Primogênito.

ESSA DIVINDADE ERA REPRESENTADA POR UM FALCÃO OU por um homem com cabeça de falcão e o disco solar sobre ela. Às vezes aparece usando a coroa branca do Alto Egito. É ele o pai de Qebehsenuf, Duamutef, Hapi e Imset, as quatro divindades que protegiam as vísceras dos mortos acondicionadas nos vasos canopos. Considerado como o protetor do Alto Egito e do faraó por excelência, participava da cerimônia de coroação do rei e da festa de renovação do vigor faraônico.

SEGUNDO O HISTORIADOR GREGO PLUTARCO (c. 50 a 125 d.C.), a lenda egípcia conta que Nut, deusa do céu, teve uniões secretas com Geb, o deus da terra. O deus-Sol, ou seja, ou o olho diurno do rosto celeste, descobrindo o fato, pronunciou esta maldição contra ela: Oxalá não possa dar à luz nem durante o curso do mês nem durante o do ano. Porém o deus Thoth, enamorado da deusa da qual havia também obtido favores, jogou dados com a Lua, ou seja, o olho noturno do rosto celeste, e arrebatou-lhe uma septuagésima segunda parte de cada um de seus dias de luz. Com a soma de todas aquelas septuagésimas segundas partes formou cinco dias, que acrescentou aos restantes 360. De fato, 360 dividido por 72 dá cinco e esses cinco dias adicionados aos 360 formam o ano de 365 dias. Os egípcios batizaram esses cinco dias de epagômenos, que significa adicionais, e durante tal período celebravam o aniversário do nascimento dos deuses.

PLUTARCO CONTINUA NARRANDO que no primeiro daqueles cinco dias nasceu o primogênito dos filhos de Geb e Nut, Osíris, e que no momento de vir à luz deixou-se ouvir uma voz que disse: o senhor de todas as coisas aparece banhado pela luz. No segundo dia nasceu Haroéris; no terceiro dia veio ao mundo o deus Seth, não no seu devido tempo nem pelo caminho ordinário, senão lançando-se através do flanco materno, que abriu e rasgou dando-lhe um terrível golpe; no quarto dia foi Ísis que nasceu entre as marismas e no último dia nasceu Néftis. Antes mesmo de nascerem, Ísis e Osíris, enamorados um do outro, uniram-se dentro do ventre de Nut e dessa união nasceu Haroéris. Assim, esse deus seria filho de Ísis, nascido dentro do ventre de Nut a qual, por seu turno, deu-lhe à luz pela segunda vez. Desta maneira, Haroéris é filho de Nut e, portanto, irmão de Ísis e Osíris, ao mesmo tempo em que é filho de Ísis e Osíris. Em outra concepção teológica, Haroéris ocupa a posição de filho ou de esposo da deusa Hátor, a grande deusa do céu.

SENDO UM DEUS GUERREIRO QUE LUTOU CONTRA SETH, relatam os Textos das Pirâmides que numa das fases dessa batalha Haroéris morre e, então, se converte em Osíris. Por outro lado, da união póstuma de Ísis e Osíris nascerá um novo Hórus, filho de Ísis, cujo nome será Harsiese. No mito que narra a grande luta entre Hórus e seu irmão Seth pela sucessão ao trono do Egito, conta-se que os olhos de Hórus foram arrancados e posteriormente recuperados. Tal mito foi transferido sob vários aspectos para Hórus, filho de Osíris, e na nova versão, então, Hórus oferece um de seus olhos a seu pai, como símbolo de vida, retomando apenas um dos olhos para si mesmo.


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